Título: Agência manda Varig voar
Autor: Chico Oliveira, Ramona Ordoñez e Helena Celestino
Fonte: O Globo, 22/07/2006, Economia, p. 29

Empresa pode perder rotas se não cumprir ordem da Anac e retoma alguns vôos

AAgência Nacional de Aviação Civil (Anac) rejeitou ontem o pedido da Nova Varig para suspender seus vôos até o próximo dia 28, e advertiu que a empresa pode perder as rotas caso não cumpra a determinação.

¿ A decisão de suspender os vôos não poderia ter sido tomada. Numa hora de emergência não se pode ficar pensando em business. A Varig deve voar onde temos problemas para atender aos usuários e esse não é o caso da ponte aérea ¿ disse ontem, em Porto Alegre, o presidente da Anac, Milton Zuanazzi.

Além de determinar a retomada dos vôos com o mesmo número de aviões que vinha sendo utilizado no regime de emergência, a Anac determinou que a Varig retomasse os depósitos junto às câmaras de compensação, para que as demais companhias voltem a aceitar os endossos das passagens não atendidas.

¿ Não podemos obrigar a empresa a operar sem que tenha aeronaves. Mas até quarta-feira ela operou com nove. Com a decisão judicial de retenção de um avião em solo no exterior, a empresa tem condições de operar com oito ¿- disse Zuanazzi.

Segundo ele, com essa frota a Varig deve continuar operando cinco rotas nacionais e cinco internacionais até pelo menos a próxima sexta-feira, quando termina o regime de emergência. Mas esse prazo pode ser ampliado, se a Varig solicitar. Técnicos da Anac, porém, prevêem que os passageiros terão alguma dificuldade no exterior, porque a Varig dispõe hoje de apenas três aviões em condições de vôo de longa distância.

Vôos domésticos podem ter 7 aviões

Apesar da advertência da Anac, os vôos com saída da capital gaúcha previstos para ontem à tarde continuaram cancelados. Zuanazzi, no entanto, garantiu que a situação começava a se normalizar, tanto em relação à retomada de vôos como aos depósitos nas câmaras de compensação (cerca de US$1,5 milhão), o que daria tranqüilidade para outras companhias endossarem os bilhetes.

À noite, a empresa informou que restabelecerá, a partir deste fim de semana, alguns vôos internacionais e domésticos programados, mas manterá um plano de contingência nos próximos dias. Ontem, disse a Varig, foram mantidos os vôos para Frankfurt e Miami, saindo de Guarulhos. A partir de hoje, a empresa voará também para Londres e Nova York. No domingo, haverá um vôo para Caracas e outro para Buenos Aires, com escala em Porto Alegre. Os vôos domésticos restabelecidos a partir de hoje são: Rio/Recife/Fernando de Noronha; Rio (Galeão)/São Paulo (Guarulhos)/Fortaleza; e São Paulo/Manaus, em dias alternados.

Já no mercado doméstico, a empresa poderá contar com sete aeronaves. Durante o plano de emergência, a Anac estará de olho numa norma do DAC, segundo a qual a Varig terá de providenciar alimentação e hospedagem se não conseguir embarcar o passageiro depois de quatro horas de atraso no vôo.

Zuanazzi disse que a Varig não será punida por suspender os vôos sem autorização da agência, porque isso ocorreu ¿no calor do estresse¿. Mas ressaltou que a empresa é responsável pelos prejuízos aos passageiros, que têm direito a reembolso de despesas com táxi, alimentação e hospedagem quando houver atrasos.

Mas ontem os clientes da Varig ficaram entregues à própria sorte. A suspensão dos vôos decidida na noite de quinta-feira provocou tumulto em em vários aeroportos do país, principalmente Guarulhos e Recife. Segundo o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, o serviço de ouvidoria da estatal recebeu 2.500 consultas nos últimos dois dias, a maioria de pessoas com passagens da Varig.

No Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no Rio, os passageiros iam de um guichê para outro tentando uma vaga em outras companhias. Poucos conseguiam. A maioria vagava pelo saguão do aeroporto sem saber o que fazer, principalmente quem tinha bilhete emitido pelo programa de milhagem da Varig, que as outras empresas não aceitavam.

Foi o caso do casal Gina Elisa e Luiz Augusto Póvoa e de suas filhas, Luiza, de 9 anos, e Elisa, de 13. Com passagens marcadas para hoje com destino a Buenos Aires, a família foi de malas em punho ao aeroporto internacional no Rio para tentar trocar os bilhetes e viajar ontem mesmo. Três das quatro passagens eram por milhas, que ninguém aceitava. A saída foi comprar quatro bilhetes na TAM para viajar hoje à noite.

¿ Resolvemos vir hoje (sexta) porque ficamos com medo de a situação piorar e frustrar nossas férias ¿ disse Luiz Augusto.

Juiz de NY prorroga liminar contra arresto

Os argentinos Estebán Raymonde e Rodolfo Schneeberg estão no Brasil a trabalho desde segunda-feira e têm passagens da Varig para Buenos Aires amanhã. Ontem eles foram ao balcão da Varig saber o que fazer.

¿ A Varig nos mandou vir ao aeroporto no domingo cedo, porque iriam tentar nos colocar em algum vôo de outra empresa. Mas não deu qualquer garantia ¿ disse Raymonde.

O casal Camila e Tiago Cepola tentava embarcar para Porto Alegre, num dos vôos cancelados pela Varig. Eles entraram numa fila de espera na Gol.

¿ O tratamento da Varig a seus clientes está péssimo, a gente tem de resolver sozinho ¿- disse Carolina.

Sem a oposição dos credores, os novos donos da Varig conseguiram, numa rapidíssima audiência ontem, prorrogar até 14 de setembro a liminar que protege a empresa contra o arresto de aviões por dívidas anteriores a junho de 2005, quando entrou em recuperação judicial. No Tribunal de Falências do Sul de Manhattan, o juiz Robert Drain marcou uma nova audiência para 13 de setembro.

O contrato de venda da Varig ainda está sendo traduzido, por isso o juiz manteve a situação vigente antes da venda. A prorrogação da liminar tem pouca importância, porque há mais de um mês Drain decidiu que as empresas de leasing poderiam retomar os aviões, bastando enviar uma carta ao advogado em Nova York. Há mais de um ano ele vem protegendo a Varig do arresto, mas os advogados conseguiram liminar de outros tribunais.

(*) Correspondente (colaboraram Erica Ribeiro e Geralda Doca)

TURISTAS GASTAM MAIS PARA VIAJAR, na página 30