Título: Com aviões superlotados, turistas gastam mais dinheiro para viajar
Autor: Glauce Cavalcanti e Mirelle de França
Fonte: O Globo, 22/07/2006, Economia, p. 30
Aumento da procura por bilhetes fez preços promocionais desaparecerem
RIO e PORTO ALEGRE. Com a desvalorização do dólar, a alta temporada de férias e a redução na oferta de assentos aéreos agravada pela crise da Varig, a explosão da demanda no turismo passou de sonho a pesadelo de agências de viagens e de quem quer viajar. A grande procura por passagens fez desaparecerem mais rapidamente os bilhetes promocionais, que têm preços mais em conta. Diante da opção de pagar a tarifa cheia, muitas vezes o consumidor desiste do pacote, afetando os negócios das agências.
¿ Estamos com a ocupação de 98% nos vôos para a América do Norte, por isso os consumidores não encontram os bilhetes mais baratos, mas isso não significa que houve aumento de preço ¿ diz Frances Pina, gerente de vendas da American Airlines.
Pela American Airlines, a passagem Rio-Miami-Rio pode custar de US$1.159 a US$3.672, em classe econômica. Já o bilhete Rio-Frankfurt-Rio, pela Air France/KLM, entre US$919 e US$3.314, também na econômica. Segundo as companhias, o número de assentos disponíveis em cada faixa de preço varia de acordo com a demanda de passageiros. E, agora, para garantir a melhor tarifa é preciso comprar o bilhete pelo menos quatro meses antes da viagem. Até bilhetes em executiva e primeira classe estão mais caros.
Segundo Luiz Strauss, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio de Janeiro (Abav-RJ), a interrupção dos vôos da Varig agravou o quadro, diminuindo as opções para quem vende.
¿ Temos alta demanda de turistas sem ter como atender a todos ¿ comenta Strauss, destacando que o problema é mais grave no segmento de viagens internacionais. ¿ Para o passageiro, as tarifas estão custando a partir de 15% mais do que as promocionais, encarecendo a viagem.
A superlotação dos vôos está atrapalhando os negócios das empresas de turismo. Nestas férias de julho, Roberto Bessi, diretor da carioca Bessitur, teve suas vendas de viagens para a Europa reduzidas em 50%, por causa da pouca oferta de lugares nos aviões.
¿ Os vôos domésticos também estão cheios e as viagens aqui estão mais caras que as internacionais, perdendo em competitividade ¿ explica Mario Nascimento, gerente de planejamento de outra empresa carioca, a Urbi et Orbi.
Na Urbi et Orbi, o movimento está 60% abaixo do esperado na comercialização de pacotes domésticos.
Já o presidente da Abav-RJ estima que cerca de 10% dos brasileiros hoje em viagem pelo Brasil ou pelo exterior foram afetados pela suspensão de vôos da Varig, acreditando que o problema seja proporcional à participação de mercado que a companhia tinha há pouco mais de um mês.
Empresas de turismo como Bessitur e Urbi et Orbi explicam que o impacto da interrupção dos vôos da Varig acabou sendo reduzido, porque, com os sucessivos cancelamentos e atrasos, agências e passageiros foram gradualmente optando por outras empresas aéreas.
O presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, disse ontem que o órgão regulador está investigando aumentos de preços, mas que as tarifas agora não são as maiores já cobradas na aviação brasileira. Por isso não admitiu que estejam ocorrendo abusos ou que seja necessária uma intervenção.
COLABOROU Chico Oliveira