Título: MOTORISTAS SE RECUSAM A BUSCAR BRASILEIROS NO SUL DO LÍBANO
Autor: Demétrio Weber e Monica Yanakiew
Fonte: O Globo, 22/07/2006, O Mundo, p. 37

Medo frustra plano que retiraria mil pessoas no Vale do Bekaa. FAB vai realizar 4 vôos à Turquia e barco do Canadá ajudará no resgate

BRASÍLIA e RABAT. Com medo dos bombardeios israelenses, motoristas sírios contratados pelo Itamaraty para retirar cerca de mil brasileiros do Líbano desistiram do serviço. Os moradores estão no Vale do Bekaa, região montanhosa a 70 quilômetros de Beirute, e seriam levados para Damasco, na Síria, em 20 ônibus. O fracasso da operação foi anunciado ontem, em Brasília, pelo coordenador do grupo de apoio aos brasileiros no Líbano, embaixador Everton Vieira Vargas.

¿ As pessoas se mobilizaram e, na hora H, não foi possível fazer o resgate ¿ disse ele.

Vargas afirmou que a situação no Vale do Bekaa é a que mais preocupa o governo brasileiro. O acesso à região é difícil porque Israel bombardeou as estradas que ligam a região a Beirute. Daí a iniciativa de levar o grupo direto a Damasco. Até ontem não havia sido definida uma nova estratégia.

O embaixador anunciou que a Força Aérea Brasileira vai realizar quatro vôos de Adana, na Turquia, para o Brasil, e não três, como fora divulgado antes. Os vôos partirão de Adana no domingo, na segunda-feira, na quarta e na quinta. Serão dois Boeings 707 com capacidade para 150 e 80 passageiros. Desse modo, o Itamaraty espera trazer 460 pessoas, pois cada avião fará duas viagens.

Três ônibus seguem hoje de Beirute para Adana

Os vôos farão escala em Recife e seguirão para São Paulo. Não está descartada uma escala no Rio.

Além dos mil brasileiros no vale, o Itamaraty contabilizou outros 400 em Beirute e cerca de 150 em Damasco.

Hoje, três ônibus devem partir de Beirute levando 144 brasileiros para Adana. Ontem, saiu um de Beirute e outro de Damasco, ao todo com 96 pessoas. Os veículos já haviam cruzado a fronteira no meio da tarde. Segundo o embaixador, a maioria tem bilhetes de companhias aéreas e não voltará pela FAB.

No domingo, mais 50 brasileiros deverão deixar Beirute num barco enviado pelo Canadá, que cedeu parte das vagas. O Itamaraty estuda fretar embarcações para repetir o deslocamento. Em outra frente, o chanceler Celso Amorim negocia com empresas aéreas brasileiras e estrangeiras o envio de aeronaves para o resgate.

Vargas contou que na noite de quinta-feira Beirute foi alvo de violentos bombardeios no bairro onde fica a embaixada brasileira. Bombas caíram também nas imediações da residência do cônsul-geral adjunto, Fernando Vidal, e havia estilhaços na varanda do apartamento do ministro, que nada sofreu. A energia elétrica foi cortada no consulado.

Segundo ele, há brasileiros também em Trípoli, no norte do Líbano. O governo não sabe quantos são, mas quer levá-los para a Turquia e pede que quem tem parentes na região instrua seus familiares a procurarem as autoridades brasileiras.

Em Beirute, o cônsul-geral Michael Gepp explicou que o consulado tinha previsto para ontem a retirada de 200 pessoas, mas apenas um ônibus partiu porque, segundo ele, ¿muitos não se deram conta da gravidade da situação¿:

¿ Quando avisamos que está tudo pronto, tem gente que pergunta se não é possível adiar a viagem e assim ficar um pouco mais com os parentes.

As autoridades israelenses são informadas sobre as partidas, rota e características dos veículos. Além disso, o teto do ônibus é coberto por uma bandeira brasileira, para que não seja atacado por engano por aviões israelenses.

*Especial para O GLOBO