Título: ADVOGADO DE SUZANE VAI RECORRER DA SENTENÇA
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 23/07/2006, O País, p. 18

Para promotor, irmãos Cravinhos terão de passar pelo menos 26 anos na cadeia, dos quase 40 anos da condenação

SÀO PAULO. Um dos mais esperados dos últimos anos, o julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos deixa o plenário do 1 Tribunal de Júri, no Forum da Barra Funda, em São Paulo, para ocupar agora espaço em outra esfera do Judiciário. O criminalista Mauro Nacif, defensor de Suzane, pretende entrar com recursos no Tribunal de Justiça de São Paulo para reduzir o tempo de cadeia de sua cliente. Caso o TJ decida manter a pena imposta na madrugada de ontem ¿ 39 anos e seis meses ¿ o advogado diz que deverá recorrer ao Superior Tribunal Federal (STF).

Cristian Cravinhos: um ano a menos de pena

Daniel Cravinhos também foi condenado a 39 anos e seis meses. Em relação a Cristian, os jurados não teriam entendido que ele fez parte da elaboração do plano que resultou na morte de Marísia e Manfred von Richthofen, pais de Suzane, em outubro de 2002. Por isso, sua condenação foi de um ano a menos que os dois.

¿ O caso está encerrado. Mas vamos apelar para que Suzane tenha ainda mais atenuantes e sua pena possa diminuir em mais um ou dois anos ¿ disse Nacif, ainda no plenário, no meio da madrugada de ontem, após o juiz Alberto Anderson Filho ler a sentença em que os três terão de responder em regime fechado.

Como de costume, Nacif usou frases de efeito para explicar o que sentia depois do julgamento.

¿ Estou me sentindo como Felipão, e não como o Parreira. Como sou lutador, prefiro achar que joguei como o Felipão na Copa do Mundo ¿ disse ele, em conversa com jornalistas antes da leitura da sentença.

Suzane voltou para Rio Claro após condenação

Depois do julgamento, Suzane foi levada ainda ontem para o Centro de Ressocialização de Rio Claro, onde já cumpriu parte da pena. Os irmãos Cravinhos foram encaminhados para a penitenciária de Tremembé, também no interior do estado. Embora ¿amplamente satisfeito¿ com a forma como o juiz aplicou a pena, Geraldo Jabur advogado dos irmãos Cravinhos, disse que eles poderão ser beneficiados com o regime de progressão de pena, já que desde que foram presos mantiveram bom comportamento na cadeia.

¿ Eles deverão ter o direito assegurado de cumprir apenas um sexto da pena e depois entrar no semi-aberto ¿ diz Jabur, sobre a possibilidade de Cristian e Daniel, daqui a quatro anos, trabalharem fora e apenas dormirem na cadeia. Os promotores, no entanto, têm outra visão.

Um deles, Nadir Campos Junior, faz outra conta.

¿ Como o juiz determinou regime fechado, eles só poderão ter qualquer benefício depois que cumprirem dois terços da pena, ou seja, terão que ficar presos pelo menos 26 dos quase 40 anos a que foram condenados.

Para o juiz Alberto Anderson Filho, que conduziu o julgamento, a pena estipulada foi adequada. Ele diz que o fato de o Código de Processo Penal estabelecer que se um o acusado pegar 20 anos ou mais anos de prisão um novo juri deve ser marcado obrigatoriamente não influenciou na sua decisão.

¿ A pena atendeu a todas as qualificadoras a que foram condenados ¿ disse ele.

Os irmãos Cravinhos foram condenados a duplo homicídios triplamente qualificado: motivo torpe (vingança e queria o dinheiro da família), sem dar chance de defesa às vítimas (que estavam dormindo quando foram atacadas) e meio cruel (pauladas e asfixia). Suzane foi classificada pelos jurados ¿ quatro homens e três mulheres ¿ como co-autora dos crimes.

Embora tenha considerado o resultado do julgamento como uma derrota, o advogado de Suzane comemorava ontem o fato de o conselho de sentença ter entendido que a garota foi coagida para cometer o crime, embora esse tenha sido o entendimento dos jurados apenas no caso da morte de Manfred. Os jurados não tiveram o mesmo entendimento quando o juiz perguntou se entendiam que Suzane teria sido manipulada pelos irmãos Cravinhos com relação à morte de Marísia. Para os promotores, os jurados, em razão do cansaço, teriam feito confusão na hora em que tiveram que responder a um questionários com quase 50 perguntas.

¿ Eles vinham condenando a suzane a tudo e de repente surgiu uma pergunta sobre a coação moral irresistível, que causou confusão. Isso é normal nesse tipo de processo, mas o resultado foi uma vitória para a promotoria ¿ comemorou Roberto Tardelli, titular do caso.

Pais de Cravinhos se abraçaram e choraram

Ao fim da sessão de ontem, Suzane e os Cravinhos deixaram o plenário escoltado por policiais. Cerca de 20 PMs faziam a segurança do local enquanto o o juiz lia a sentença. Os pais dos Cravinhos, sentados na primeira fila, se abraçaram e choraram enquanto era lida a condenação. Ninguém da família de Suzane compareceu ao julgamento, que durou cinco dias.

¿ Estou triste, mas aliviado. Tudo continua nas mãos de Deus ¿ dizia Astrogildo Cravinhos, pai de Daniel e Cristian, a amigos que o cumprimentavam no plenário.