Título: BELEZA, RIGOR E DISCRIÇÃO À FRENTE DA CRISE
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 23/07/2006, O Mundo, p. 42

Discursos impecáveis e mão-de-ferro na condução da política externa de Israel destacam ministra em meio ao confronto

TEL AVIV. Há dois meses, enquanto o primeiro-ministro de Israel ganhava as manchetes após o primeiro encontro com o presidente americano George W. Bush e o bem-sucedido discurso no Capitólio, a ministra do Exterior, Tzipi Livni, esforçava-se para manter a discrição que se tornou sua marca registrada. Com a eclosão da guerra contra o Hezbollah no Líbano, a bela ministra volta à cena discretamente, mas com discursos impecáveis e aparições marcantes junto a figuras do mais alto escalão da diplomacia internacional.

Querida pelo presidente egípcio Hosni Mubarak, respeitada pelo presidente palestino Mahmoud Abbas e dona de estreitos laços com a secretária de Estado dos EUA, Condoleeza Rice, Livni começa a conduzir com mão-de-ferro a política externa israelense num estilo duro e preciosista que remete ao ex-premier Ariel Sharon, seu velho amigo e aliado.

Casada, mãe, discreta e expert em Krav Magá

Considerada herdeira informal de Sharon, aos 47 anos, Livni chegou ao Parlamento como deputada pelo partido de direita Likud em 2001, após anos de carreira militar e uma passagem pelo Mossad, o serviço secreto israelense, no início dos anos 80. Formada em Direito, sempre esteve ao lado de Sharon durante seus últimos mandatos como primeiro-ministro. A política corre em suas veias. Filha de um ex-deputado do Likud e ex-combatente do Etzel, grupo clandestino que lutava pela libertação da Palestina antes da criação de Israel, em 1948, Livni teve um papel importante nas negociações entre as alas mais radicais do Likud e no lobby pela aprovação do plano de retirada unilateral da Faixa de Gaza.

Quando Sharon deixou o partido e criou o Kadima, foi a primeira a juntar-se à nova legenda. Ela é casada, mãe de dois filhos, e faz questão de manter um estilo discreto, fugindo dos repórteres que circulam pela Knesset. Uma das piadas recorrentes nos corredores do Parlamento é que, devido aos anos no serviço secreto israelense, não se deve brincar com Livni, que é mestre em Krav Magá, a técnica de defesa pessoal desenvolvida pelo Exército de Israel. Quando se vê cercada de microfones, é dura e assertiva.

Fim de semana é dedicado à família

A ministra tem poucas alianças pessoais dentro da política e diz acreditar num acordo de paz com os palestinos em troca de ¿concessões difíceis¿, trazendo de volta às fronteiras de Israel boa parte dos colonos que vivem espalhados pela Cisjordânia, renegando a herança deixada pelo pai, Eitan Livni, respeitado ícone da velha guarda da direita israelense.

¿ Vocês sabem de onde vim e que educação eu tive. Esta revolução mexe comigo, mas vamos em frente. Papai deve estar se revirando no túmulo ¿ confidenciou a ministra a amigos ao decidir abandonar o Likud e partir com Sharon para o novo partido Kadima.

¿Quando pequena ia à casa de Menachem Begin (ex-premier israelense do Likud, responsável pelo tratado de paz com o Egito, em 1978), mas a política não me atraía, pois só via ali uma luta de interesses pessoais. Entrei tarde na política não por dinheiro, mas por sonhar em influenciar e liderar. Tinha duas alternativas: ou sentava para ver a direita acusando a esquerda de abandonar as tradições e a esquerda acusando a direita de incitar a guerra ou entrar na política e decidir. Eu optei pela política¿, explicou Livni em recente entrevista ao jornal ¿Washington Post¿.

Os planos ambiciosos parecem estar no caminho certo. Dona de uma retórica objetiva e centrada, Livni começa o dia às 9h da manhã no escritório em Jerusalém após viajar os cerca de 65 km que ligam sua casa, em Tel Aviv, à Cidade Santa. Ela não chega a ser uma workhaholic assumida, mas sua jornada de trabalho se estende até a meia-noite. Nos fins de semana, tenta desligar-se da vida pública e dedicar-se somente ao marido e aos dois filhos.