Título: LÍDER DA VIA CAMPESINA DEFENDE REELEIÇÃO DE LULA
Autor: Cristiane Jungblut e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 25/07/2006, O País, p. 5

Representante do movimento que invadiu e depredou laboratório da Aracruz no Sul foi recebido no Planalto

BRASÍLIA. Em cerimônia no Palácio do Planalto para sanção da lei sobre agricultura familiar, o representante da Via Campesina, Altacir Bundi, fez ontem uma defesa indireta da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Representantes de diversos movimentos sociais participaram da solenidade. Bundi disse que é preciso evitar o retrocesso e o que chamou de volta da burguesia. Ao ouvir as declarações de Bundi, coordenador do escritório nacional da Via Campesina, Lula sorriu e depois, em discurso, elogiou os movimentos sociais.

Representando o Movimento dos Pequenos Agricultores, o MST, o Movimento dos Trabalhadores Camponeses e o Movimento dos Atingidos pelas Barragens, o dirigente da Via Campesina elogiou ações do governo na área da reforma agrária.

¿ Não queremos de volta a burguesia no poder ¿ disse Bundi, sendo aplaudido pelos presentes: ¿ Existem ainda no nosso país algumas coisas que precisamos mexer. Se não foi possível até agora, terá que ser daqui para a frente.

Em seu discurso, Lula não fez referência à eleição, mas aproveitou para divulgar o que fez para o setor. Disse que terminará o ano com a ¿consciência tranqüila de que fez mais do que se pensava¿ em favor da agricultura familiar. Sem citar o caso da invasão da Câmara pelo Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), Lula disse que os movimentos nunca foram encarados como um empecilho.

¿ Vocês, nestes quatro anos, não encontraram obstáculos dentro do governo. Tenho certeza de que em algum momento vocês acordaram pensando que a relação seria muito mais difícil do que foi ¿ disse Lula.

Lula também criticou o Congresso ao afirmar que, desta vez, a questão ideológica não prevaleceu e foi aprovada a lei que cria a categoria produtiva da agricultura familiar. Com a nova lei, que ainda precisa ser regulamentada pelo governo, o agricultor familiar será aquele que detém área de até quatro módulos fiscais. O presidente afirmou que, em alguns casos, o Congresso rejeita bons projetos.

¿ Vocês compreenderam a correlação de forças dentro do Congresso. Nem sempre a gente pode fazer aquilo que a gente tem vontade de fazer e às vezes até um bom projeto pode ser perdido se for derrotado no momento certo ¿ disse Lula, acrescentando que, na semana passada, mandou para o Congresso a medida provisória que prorroga por mais dois anos as regras atuais para aposentadoria dos trabalhadores rurais.

Ao dizer que o êxodo rural está diminuindo no país, segundo o IBGE, Lula disse que os programas do governo, como financiamento da agricultura e energia no campo, dão segurança para os trabalhadores continuarem no campo em vez de irem para a periferia das grandes cidades.

¿ E, ainda mais, se garantirmos que as crianças tenham direito à escola, que as mulheres tenham acesso mais fácil à saúde, então é o melhor dos mundos que a gente pode criar para a pessoa viver no campo ¿ disse Lula.

O presidente disse que a agricultura familiar é importante para o desenvolvimento do país e não é incompatível com a agricultura empresarial:

¿ Feliz do Brasil que tem dois poderes extraordinários de produção no campo como nós temos.