Título: UM DIA SEM BOMBAS NA PARIS DO ORIENTE
Autor:
Fonte: O Globo, 25/07/2006, O Mundo, p. 27

BEIRUTE. A passagem da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, por Beirute trouxe alívio à população. Mas a sensação fugaz de segurança não está associada à idéia de que os EUA possam intervir a favor do Líbano no conflito com Israel. Em Beirute, quase todos culpam os EUA pela guerra. A população respirou aliviada porque ontem, pela primeira vez desde o dia 12, a cidade não sofreu bombardeios.

¿ Pelo menos a vinda dela serviu para alguma coisa ¿ comentou Myrtha Kalach, balconista numa cafeteria do centro.

Também pela primeira vez em duas semanas, os moradores puderam dormir tranqüilos, sem acordar com o barulho dos bombardeios. Embora Israel esteja concentrando os ataques à região sul da cidade, o barulho pode ser ouvido e o tremor sentido a quilômetros de distância.

¿ Já passamos por situações piores, como a guerra civil, mas desta vez o barulho é de madrugada, e pega a gente desprevenido ¿ reclamou Danyr Mahklouf, dono de uma sapataria.

A maior parte de Beirute viveu ontem um dia quase comum, com muita gente na rua. Com exceção da parte sul, parcialmente destruída, e dos albergues de desabrigados pela guerra, a Paris do Oriente, como a cidade voltou a ser chamada após a reconstrução, continua funcionando. O medo só vinha à tona quando aviões surgiam no céu. Para a maioria, a vinda de Condoleezza não passa de cena. Para os libaneses, as declarações do presidente George W. Bush contrárias ao cessar-fogo antes de o Hezbollah ser desmantelado são prova de que Israel é controlado pelos EUA.