Título: PARA EUA, CESSAR-FOGO SERIA DAR A VITÓRIA AO HEZBOLLAH
Autor:
Fonte: O Globo, 25/07/2006, O Mundo, p. 27

Ex-embaixador acha inevitável guerra com a Síria

WASHINGTON. A perspectiva, do ponto de vista do governo americano, é de que o atual conflito no Oriente Médio vai se prolongar por mais alguns dias, talvez semanas. Sua prioridade é oferecer ajuda humanitária ¿ US$30 milhões para começar ¿ mas sem apoiar um cessar-fogo.

As condições para isso ainda não são propícias, segundo disse o subsecretário de Estado dos EUA para Assuntos Políticos, Nicholas Burns:

¿ Um cessar-fogo agora significaria uma vitória do Hezbollah ¿ disse ele.

A estratégia começa a incomodar especialistas. Além das consequências humanitárias, eles crêem que os tiros israelenses poderiam acabar saindo pela culatra. Por um lado, serviriam para reforçar o recrutamento do Hezbollah. Por outro, ¿unificar a maioria do Líbano e do mundo árabe e persa atrás dessa agressiva organização¿, disse Michael O¿Hanlon, da Brookings Institution, em Washington.

¿ Mesmo para aqueles que entendem a lógica política e estratégica por trás da robusta resposta de Israel aos ataques do Hezbollah, há um sério argumento de que Israel está a ponto de ir longe demais, se é que já não foi. O essencial é evitar um grande número de vítimas civis ¿ acrescentou ele.

Seu temor, e de outros especialistas, é que não funcione a estratégia israelense de tomar o sul do Líbano, para entregá-lo depois ao Exército libanês e a uma força internacional de paz, e então negociar.

¿ Temo que isso não funcione porque o Hezbollah pode perceber o jogo. E tentar fazer com que o governo libanês convença aquele grupo dificilmente funcionará ¿ disse Martin Indyk, ex-embaixador dos EUA em Israel.

Segundo ele, o mais provável a esta altura é que o conflito se alastre:

¿ Creio que a situação não se resolverá até que as chamas comecem a engolfar a Síria, fazendo com que Irã e Síria decidam que é interesse deles desativar o Hezbollah.

Para Indyk, enquanto não houver um confronto direto, leia-se, uma guerra entre Israel e Síria, o atual conflito não terá solução:

¿ Não estou recomendando isso, mas temo que somente quando a guerra chegar a esse ponto Irã e Síria decidirão que não querem ver o Exército sírio derrotado e o regime sírio derrubado. Aí sim eles decidirão que o atual conflito já foi longe demais ¿ disse o ex-embaixador, que hoje preside na capital americana o Centro Saban para a Política do Oriente Médio.