Título: `Há um vácuo de propostas¿
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Fonte: O Globo, 25/07/2006, O Mundo, p. 27

TEL AVIV. A visita da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, ao Oriente Médio já é considerada um fracasso. Para o professor de relações internacionais Gerald Steinberg, da Universidade Bar Ilan, faltaram alternativas viáveis para chegar ao ¿cessar-fogo duradouro¿ que marcou seu discurso.

Condoleezza Rice chegou de surpresa a Beirute propondo um "cessar-fogo sustentável". O que isto quer dizer?

GERALD STEINBERG: Trata-se de linguagem diplomática para minimizar a falta de propostas concretas para se chegar ao cessar-fogo, sobretudo para se chegar a um cessar-fogo duradouro. É preciso usar todas as armas no campo da diplomacia, mas no campo estratégico não há caminho que leve ao fim das agressões mútuas. O Hezbollah não aceita a condição israelense de libertar os soldados seqüestrados e Israel não vai mais aceitar a presença do grupo xiita próximo à sua fronteira norte. Estamos estagnados. Por um lado, os EUA têm de demonstrar apoio ao Líbano, mas por outro, têm grande interesse no fim do Hezbollah.

Houve outras crises envolvendo Israel e os palestinos sem que Rice viesse à região. Qual o significado político desta visita?

STEINBERG: Creio que a visita acontece após o interesse dos europeus em interferir. A visita dos ministros de França e Alemanha fizeram com que o presidente Bush mandasse também sua representação. Infelizmente todos vieram apenas para serem fotografados, pois há um vácuo de propostas como há muito não se via na diplomacia. Os europeus vivem num mundo imaginário em que não são capazes de avaliar os riscos do terror.

A decisão de visitar primeiro Beirute provocou uma surpresa?

STEINBERG: Não. Condoleezza veio em causa própria. Com os estragos da ocupação no Iraque e os ecos da guerra no Afeganistão, os EUA têm preocupação em salvar o que restou de sua imagem junto a países árabes. Esta viagem não veio para resolver, mas para atender às pressões mundiais. Quando há civis morrendo em frente às câmeras de TV, é preciso acionar a máquina da propaganda e mostrar que há consciência e preocupação.