Título: CONDOLEEZZA VAI À GUERRA
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Fonte: O Globo, 25/07/2006, O Mundo, p. 27

Secretária de Estado faz visita surpresa a Beirute e apresenta termos para o cessar-fogo

BEIRUTE

Bombas caíam no sul do país, mas a situação na capital libanesa era calma quando a secretária de Estado americana chegou a Beirute. Condoleezza Rice fez ontem uma visita surpresa à capital libanesa, na primeira escala de sua viagem ao Oriente Médio para discutir o conflito entre Israel e a milícia xiita do Hezbollah. A parada foi vista por alguns analistas como manifestação de apoio ao frágil governo libanês. Mas o apelo do premier Fouad Siniora pelo fim dos bombardeios israelenses parece longe de ser atendido: pouco após as reuniões em Beirute, a Casa Branca anunciou que um cessar-fogo imediato na região era impraticável.

A viagem de Condoleezza aconteceu no 13º dia do conflito, quando o número de mortes no Líbano já se aproxima de 400 ¿ civis, em sua grande maioria. A secretária chegou num helicóptero à embaixada americana, procedente de Chipre, seguindo num comboio em alta velocidade e ignorando as manifestações contra os EUA. Siniora a recebeu com beijos no rosto e ela procurou manifestar a preocupação americana com a situação.

¿ Estou aqui porque estamos profundamente preocupados com o povo libanês. Estamos conversando sobre a situação humanitária e também sobre uma forma durável de acabar com a violência. Obrigada por sua coragem e determinação ¿ disse ela a Siniora.

Em Israel, com a chanceler Livni

O encontro seguinte teria um clima mais tenso: a reunião com o presidente do Parlamento, Nabih Berri, uma das poucas autoridades no país a manterem contato atualmente com o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. Segundo uma fonte libanesa, a reunião teve um ¿tom negativo¿ e a secretária disse a Berri que o cessar-fogo só será possível se a milícia entregar os dois soldados israelenses seqüestrados no dia 12 ¿ o que deflagrou a retaliação de Israel ¿ recuar pelo menos 20 quilômetros da fronteira e aceitar uma força internacional na região.

¿ A situação não pode voltar ao que era antes de 12 de julho ¿ disse ela a Berri.

O político teria proposto, por sua vez, um plano em fases, começando pela trégua, passando para a libertação dos soldados e as negociações.

No vôo de Washington ao Oriente Médio, Condoleezza havia dito a jornalistas que um cessar-fogo era urgente, mas que era ¿importante ter condições que o tornassem duradouro¿. De Beirute, ela partiu rumo a Israel, onde se encontrou à noite com a chanceler Tzipi Livni. Ambas insistiram que para solucionar o conflito é necessário desarmar o Hezbollah e retirá-lo da fronteira com Israel.

¿ O objetivo do Hezbollah é incendiar e ensangüentar o mundo, e não vamos deixar que isso aconteça ¿ disse Livni.

ONU pede US$150 milhões para ajuda

Os EUA anunciaram uma ajuda ao Líbano de US$30 milhões, incluindo remédios, barracas e cobertas. Foi uma resposta ao apelo da ONU em favor do país, onde 750 mil pessoas ¿ quase um quinto da população ¿ foram forçadas a deixar suas casas. Segundo a ONU são necessários US$150 milhões para atender 800 mil pessoas por três meses. A União Européia ofereceu US$12 milhões. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse que pressionará por uma trégua, assim como pelo envio de uma força internacional durante o encontro que discutirá o conflito amanhã, em Roma.

Annan defendeu ainda o envolvimento nas negociações de Irã e Síria ¿ que não foram convidados para a conferência de Roma ¿ devido ao seu grau de influência na região. Ele contou que entrou em contato com autoridades dos dois países e que elas manifestaram disposição em cooperar, mas que tudo dependerá do pacote de medidas que surgirá do encontro.