Título: É preciso realismo
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 24/07/2006, O GLOBO, p. 2

A segurança pública, por força das recentes rebeliões nos presídios de São Paulo, virou um tema importante do debate eleitoral. Nos próximos meses, os candidatos a presidente da República e a governador nos 27 estados farão um rosário de promessas. Todos eles farão pose de xerife e vão prometer investir mais em segurança pública e que serão implacáveis no combate ao crime.

Essa declaração de intenção, que se repete nas eleições para os governos estaduais, responsáveis pela segurança pública, desde 1982, é insuficiente para enfrentar a questão da violência. O professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, Artur Costa, diz que em geral os candidatos ficam muito aquém da necessidade quando se trata de apresentar propostas concretas para o setor. Ele questiona, por exemplo, o fato de nenhum governador ou autoridade de segurança pública ter realizado até hoje pesquisas sistemáticas sobre vitimização. Esse tipo de pesquisa, realizado há 30 anos nos Estados Unidos, Canadá e França, busca saber quem se sente vítima da violência, de que tipo, como ocorreu, como reagiu e que tratamento recebeu das instituições. Essa pesquisa, argumenta, é mais ampla do que a feita em cima dos registros criminais nas delegacias.

¿ Como alguém pode executar uma política de segurança pública que atenda as pessoas sem saber como elas se sentem? ¿ pergunta o professor.

Outro aspecto relevante para deter a violência é ampliar o acesso das pessoas à Justiça, sobretudo nas classes D e E. Costa defende a criação e a proliferação de Juizados Especiais Penais e Civis, capazes de resolver disputas entre vizinhos, brigas de casais, conflitos em bares e divergências no local de trabalho. Esses juizados permitiriam que as pessoas resolvessem suas divergências de forma não violenta.

Além disso, considera que é preciso reorientar a formação e as práticas policiais para que estes tenham a confiança da população. As polícias deveriam controlar com mais rigor a ação de seus integrantes, criando ouvidorias externas e manuais de conduta da atividade. Para Costa, investir mais no setor não é necessariamente a resposta para a questão da violência. Ele explica que não existe relação entre o volume de gastos em segurança e os indicadores de criminalidade e violência. E conclui que está na hora dos candidatos abandonarem o amadorismo no tratamento de um tema tão complexo.