Título: DOCUMENTO RELATA CONVERSAS SOBRE TRÁFICO DE MULHERES E ATÉ DISPUTA POR MULATA
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 24/07/2006, O País, p. 3

Diálogos usam linguagem cifrada e pornográfica e mencionam prisão de empresário

BRASÍLIA. Policiais, advogados e empresários presos pela Operação Cerol na sexta-feira não se limitavam a manipular inquéritos sobre crimes financeiros. Relatório reservado da inteligência da PF acusa o grupo também de usar informações privilegiadas para prejudicar concorrentes. Nas conversas gravadas com autorização judicial, integrantes da organização falam sobre assassinatos, prisões, tráfico internacional de mulheres e até sobre uma curiosa disputa entre a Scala e a Plataforma, duas casas noturnas do Rio, pelo passe de uma mulata, avaliado em R$8 milhões.

Nos diálogos, os integrantes da organização usam linguagem cifrada, e as vezes pornográfica, para tramar contra alguns concorrentes. Numa das conversas, o advogado Monclar Gama, do escritório de Michel Assef, e o escrivão Álvaro Andrade da Silva, falam sobre a prisão de um empresário. A conversa foi gravada gravada às 14h34m do dia 11 de agosto de 2005.

¿ A parada é o seguinte, aquele corno que tu prendeu, o que é que tu tem dele aí, tem auto de prisão em flagrante? ¿ pergunta Gama.

O escrivão responde afirmativamente. Momentos depois, Monclar diz que o empresário teria tentado intermediar o contrato de uma mulata com a Plataforma. Como o negócio não se concretizou, o empresário teria levado a mulata para dançar no Scala e baixou o preço da entrada na boate para R$30. A Plataforma teria, então, resolvido receber a dançarina. ¿Mas aí o empresário pediu dois milhões, mais oito mil dólares por mês¿, disse Monclar.

Conversas com o delegado Daniel Brandão citada no relatório

Numa outra conversa, Monclar e Alvaro conversam com o delegado Daniel Brandão sobre o mesmo assunto. ¿Brandão diz: `nós vamos f. eles. Delegado quer pau que nem pica-pau, adora comer carne, salada¿. Monclar ri e diz que foi o dono do Plataforma, com aquele Alberico, que é o manager lá de dentro, e passou a tarde lá cuspindo labareda. E um policial não identificado retruca: `eu vou prender eles também¿. Brandão diz: `me dá aí o CNPJ da Plataforma¿, descrevem os investigadores no relatório usado pela Justiça Federal para decretar a prisão dos 17 acusados.

Advogados também fizeram lobby por Medalha Tiradentes

O relatório reservado também mostra que policiais e advogados fizeram lobby para que a Assembléia Legislativa do Rio concedesse a Medalha Tiradentes ao diretor-executivo da PF Zulmar Pimentel. A idéia do grupo seria ser aproximar a cúpula da instituição e, com isso, se manter em cargos chaves. Os parlamentares atenderam ao pedido e Pimentel aceitou a homenagem. Mas, na semana passada, Pimentel viajou ao Rio para comandar pessoalmente a prisão dos falsos aliados. Delegados e advogados da organização também tentaram se aproximar do superindente da PF Delci Carlos Teixeira, que substituíra José Milton no cargo. O grupo teria sido orientado por José Milton a chamar Teixeira para beber. "Pelúcio diz que José Milton já o alertou que o cara é f., falando que a única coisa boa que ele tem é o que ele gosta de um mézinho". A estratégia também não deu certo.