Título: A REVIRAVOLTA
Autor: Mauro Halfeld
Fonte: O Globo, 24/07/2006, Economia, p. 19

Na intensa disputa pelo controle da Perdigão, vale destacar o sucesso da estratégia que promoveu uma reviravolta na empresa em 1993. Após o falecimento de dois de seus fundadores, a companhia, mergulhada em dívidas, colocava em grande risco a vida financeira de dezenas de milhares de funcionários e pequenos produtores rurais do Sul do Brasil.

Um acionista minoritário foi convidado a assumir o comando: o ex-bancário Eggon João da Silva, que, 30 anos antes, havia fundado na mesma Santa Catarina a indústria de motores elétricos Weg. Eggon deixou a própria empresa para tentar salvar a Perdigão.

Com o apoio do Banco do Brasil, do BNDES e de grandes fundos de pensão, a companhia sobreviveu. Bastou apenas um ano para que Eggon e seus aliados provocassem uma reviravolta nos números da empresa. Depois de amargar um prejuízo de R$25 milhões, a Perdigão fechou o ano de 1993 com um lucro de R$11 milhões. Doze anos depois, o lucro anual é 35 vezes maior. Ao longo do mesmo período, o patrimônio líquido multiplicou-se 1.300 vezes. Quase quebrada em 1992, hoje a companhia tem 35 mil funcionários, fatura quase R$6 bilhões por ano, vale no mercado R$4 bilhões e é desejada pelas maiores indústrias de alimentos do mundo.

Dois anos depois de comandar a terapia intensiva, Eggon passou o comando para Nildemar, um jovem executivo não menos talentoso. Eggon tornou-se presidente do Conselho de Administração, apesar de ser um acionista minoritário da Perdigão.

Mais notável ainda nessa história é o firme compromisso da Perdigão com os princípios da boa governança corporativa. Ela mereceu prêmios por sua transparência, ingressou no exigente Novo Mercado da Bovespa e pulverizou o controle acionário.

Certa vez, ao volante de seu carro, Eggon me contou sobre a difícil decisão de deixar o comando da Weg para tentar salvar a Perdigão. Disse-me bastante emocionado: ¿Deus havia me emprestado alguns dons para administrar minha empresa. Eles não me pertenciam. Senti que estava na hora de usar aqueles dons para impedir que dezenas de milhares de famílias quebrassem¿.

Meus sinceros cumprimentos aos colaboradores e aos investidores da Perdigão, que escreveram uma bela página no livro da história do moderno capitalismo brasileiro.