Título: PULVERIZAÇÃO DE CAPITAL NÃO IMPEDE QUE VONTADE DE UM GRUPO PREVALEÇA
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 24/07/2006, Economia, p. 19

Ações de empresas sem bloco controlador, no entanto, tendem a se valorizar

Imagine ser sócio de uma empresa em que não há controlador e você, pequeno investidor, como todos os acionistas, é responsável pelas decisões. Pulverizar o capital e deixar para trás a figura de um dono ou grupo majoritário, colocando os minoritários em pé de igualdade com os demais acionistas, acreditam especialistas, tende a valorizar os papéis das empresas a longo prazo. Mas a pulverização não impede que um grupo específico decida o futuro da empresa.

No caso da Sadia e da Perdigão, os fundos de pensão ¿ com menos de 50% do capital ¿ se uniram a outro sócio para impedir a venda, conseguindo, assim, a maioria.

A pioneira no Brasil a se tornar uma empresa efetivamente pública foi a Renner, que pulverizou seu capital em 2005, e foi seguida por empresas como Embraer, Submarino, Diagnósticos da América (Dasa) e Perdigão. Desde o lançamento das ações, em julho de 2005, os papéis da Renner já subiram 206,97%.

¿ O investidor valoriza a transparência e a gestão democrática das empresas de capital pulverizado. E ele acaba pagando mais para ser sócio dessas companhias, em que terá poder de voz. Por isso, a tendência é de valorização dos papéis a longo prazo ¿ diz Júlio Cardozo, administrador de carteiras do banco BVA.

Ações não estão imunes aos movimentos de mercado

A curto prazo, a empresa fica sujeita às oscilações do mercado. Isso ocorreu, por exemplo, com as ações da Embraer, que já caíram 4,62% desde a pulverização do capital, em junho deste ano, período de maior turbulência na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O mesmo aconteceu com os papéis da Dasa, que caíram 32,92% desde a pulverização, em abril.

¿ Se, por um lado, os acionistas tendem a valorizar mais os papéis de empresas de capital disperso, por outro, as ações continuam sujeitas aos movimentos de mercado a curto prazo e podem cair fortemente. São empresas que, como qualquer outra, não estão imunes às notícias e especulações de mercado ¿ esclarece Gilberto Braga, professor do MBA em Finanças do Ibmec-RJ.

¿ A credibilidade que a companhia conquista ao ter uma relação transparente e próxima dos acionistas é valorizada pelos investidores com o passar dos anos. Mesmo agora, passado pouco tempo da pulverização, temos grupos importantes de investidores que, apesar da queda recente, mantêm a aplicação, apostam na empresa a longo prazo ¿ afirma Henrique Bastos, gerente de Relações com Investidores da Dasa.

A transparência de informações dessas companhias coloca-as na mira de concorrentes, tornando-as potenciais alvos de aquisição por outras empresas. Isso aconteceu no caso da Perdigão. A Sadia, de posse dos dados da concorrente de capital pulverizado, fez uma oferta diretamente aos acionistas na semana passada. Mas esse é um processo que tende a beneficiar o acionista.

¿ Hoje, são poucas as empresas com capital pulverizado no Brasil. Por isso, as que têm grande transparência de informações têm seus dados facilmente acessados por outras, mais fechadas, que podem negociar com grupos acionistas a compra do negócio, já que não há um controlador. Mas isso tende a gerar valor: em meio às especulações que se seguem às disputas, pode haver valorização dos papéis ¿ avalia Márcio Kawassaki, analista da Fator.

Acionistas devem participar do dia-a-dia da companhia

Existem, apesar da diluição do capital e da descentralização do controle, grupos de acionistas que, se formarem um bloco, conseguem decidir o futuro da empresa, alerta Saulo Sabá, diretor-executivo da Máxima Asset Management:

¿ Por isso, o investidor precisa estar atento e exercer seus direitos.

¿ O acionista tem que ter uma participação mais ativa no dia-a-dia da companhia, entender a importância do seu papel para o negócio, tem que participar das assembléias, cobrar resultados e mesmo questionar a gestão, se necessário. É fundamental que o investidor seja proativo: o controle está também em suas mãos ¿ orienta Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora.

O oficial da Marinha Josoel de Lima, cliente da corretora Ágora, já investe nas ações do site Submarino e, agora, quer aplicar também nos papéis da Perdigão.

¿ É importante saber que tenho o direito de opinar e decidir sobre o futuro da empresa. Quero ter poder de voz e investir em empresas que me valorizam ¿ diz Lima.