Título: ATENTADOS MATAM 62 PESSOAS NO IRAQUE
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Fonte: O Globo, 24/07/2006, O Mundo, p. 22

Reunião de reconciliação fracassa e premier vai aos EUA debater com Bush onda de violência

BAGDÁ. Enquanto o primeiro-ministro, Nuri al-Maliki, embarcava para uma visita à Casa Branca, onde vai discutir meios de frear a escalada de violência no Iraque, pelo menos 62 pessoas morreram e mais de 120 ficaram feridas ontem no país vítimas da explosão de três carros-bomba em atentados em duas cidades. O premier e seus assessores viajaram em busca de uma alternativa para evitar a guerra civil, mas o cenário de destruição deixado ontem dá a medida da dificuldade da missão.

As explosões ocorreram ao mesmo tempo em que forças iraquianas e da coalizão comandada pelos Estados Unidos realizavam uma operação contra o Exército de Mahdi, temida milícia xiita a quem os sunitas acusam de tramar seqüestros e assassinatos que, segundo eles, ameaçam fragmentar o país.

Dois carros-bomba causam 42 mortes em Sadr

Em Sadr, uma área de população pobre de Bagdá considerada um bastião do Exército de Mahdi, duas explosões separadas provocaram a morte de 42 civis. Os atentados ocorreram um dia depois da malograda reunião inaugural de um comitê formado para desenvolver estratégias de reconciliação para as facções étnicas e religiosas do país. O encontro terminou sem apresentar qualquer resultado significativo.

Outro carro-bomba foi detonado perto de um tribunal ao norte da cidade de Kirkuk, matando pelo menos 20 civis. Curdos, árabes e outros grupos lutam pelo controle da cidade, situada sobre um dos maiores campos petrolíferos do mundo.

Em Sadr, carros destruídos mostravam a magnitude de uma das explosões, na qual morreram 34 pessoas. Segundo testemunhas, o ataque foi realizado por um motorista suicida numa caminhonete diante de um mercado repleto de compradores e vendedores, no primeiro dia da semana de trabalho iraquiana. O Ministério da Defesa, porém, informou que o carro utilizado foi um veículo de passeio. No outro atentado de ontem em Sadr, a bomba foi instalada na carroceria de uma carreta e detonada diante de um prédio do governo municipal. Oito pessoas morreram.

Partido árabe-sunita não vai à primeira sessão do comitê

Enquanto as Nações Unidas reconhecem que cem pessoas morrem por dia no país, autoridades americanas e iraquianas dizem que os meios de comunicação exageram os perigos causados pela violência no Iraque.

Os sunitas, cuja comunidade se rebelou nos últimos três anos contra a ocupação americana e a maioria xiita, dizem que estão sendo atacados por esquadrões da morte xiitas. O principal partido que durante o governo de Saddam Hussein representava a minoria dominante árabe-sunita não participou da primeira sessão do Comitê para Reconciliação, que, segundo Maliki, ¿é a última oportunidade para alcançar a paz¿.

Empossado há dois meses, com a promessa de buscar a união nacional e de preparar o caminho para a retirada das tropas de coalizão, o primeiro-ministro não conseguiu controlar a crise e foi discutir a segurança do país com George W. Bush, com quem vai se encontrar amanhã.