Título: CPI inclui ex-ministro de Lula
Autor: Alan Gripp/Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 26/07/2006, O País, p. 3

Sai nova lista de investigados no caso dos sanguessugas e Saraiva Felipe é um deles

A CPI dos Sanguessugas surpreendeu ontem ao revelar que o ex-ministro da Saúde Saraiva Felipe (PMDB-MG) está na lista de mais 33 parlamentares que desde ontem são oficialmente investigados pela comissão. Saraiva, que reassumiu seu mandato na Câmara para ser candidato à reeleição em outubro, é acusado pelo empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin de atuar pessoalmente na liberação de recursos para a quadrilha quando comandava o ministério (de julho de 2005 a março deste ano). O ex-ministro nega.

Com os 57 nomes divulgados semana passada, subiu para 90 (87 deputados e três senadores) o número de parlamentares atualmente com mandato na mira da CPI. Além deles, outros 25 ex-parlamentares também foram acusados por Vedoin no depoimento prestado à Justiça Federal. Com isso, chega a 115 o número total de políticos acusados de envolvimento com o esquema de compra de emendas parlamentares que liberavam recursos para venda de ambulâncias e outros equipamentos com valores superfaturados.

Embora tenha reassumido o mandato de deputado, Saraiva Felipe é citado por Vedoin por sua atuação à frente do ministério. O empresário disse que a Planam, principal empresa do grupo envolvido no escândalo, passou a ter mais facilidade para conseguir a liberação de dinheiro da Saúde após a nomeação de Maria da Penha Lino para assessoria de Saraiva. O ex-ministro tem argumentado que ela foi indicada pelo deputado José Divino (PMDB-RJ), mas, segundo Vedoin, Maria da Penha e Saraiva são amigos.

- Ele (Felipe) e a Maria da Penha eram muito amigos. Ele ajudaria a agilizar os processos da Planam, segundo o Vedoin - disse o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), da CPI.

Saraiva Felipe negou a acusação e disse que está à disposição da CPI para prestar todos os esclarecimentos.

- A Maria da Penha nunca despachou comigo para liberar verba extraordinária ou qualquer emenda parlamentar. Ela não tinha poder para isso. No cargo que tinha no Ministério da Saúde, Maria da Penha não tinha influência para liberar recursos - afirmou Saraiva Felipe.

Bate-boca sobre Saraiva Felipe na CPI

A inclusão do nome de Saraiva Felipe provocou bate-boca na CPI. Alguns integrantes da comissão defenderam também a investigação dos ex-ministros Humberto Costa (PT) e José Serra (PSDB). Costa foi apontado por Vedoin por suposta participação na liberação de recursos para a Planam. Já Serra foi citado pelo empresário. Vedoin, segundo integrantes da CPI, disse que torceu para Serra vencer as eleições presidenciais de 2002 porque os pagamentos da Saúde à Planam na gestão Fernando Henrique não atrasavam.

A CPI, no entanto, decidiu não incluir a investigação do Executivo antes das eleições:

- Isso iria contaminar toda a investigação - disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).

Saraiva foi indicado pelo PMDB para ser ministro da Saúde no governo Lula entre 2005 e 2006. Seu caso foi comparado ao do ex-ministro José Dirceu (PT), que foi investigado pela CPI dos Correios quando era deputado mas por sua atuação como ministro.

Saraiva Felipe se disse surpreso com o envolvimento de Maria da Penha na máfia:

- A Maria da Penha foi uma indicação do deputado José Divino (PMDB-RJ), e que foi encaminhada pelo líder da bancada, deputado Wilson Santiago (PB). Ela era conhecida no mundo da saúde pública. Por isso foi uma surpresa para todo mundo o envolvimento dela com esse escândalo - ressaltou o ex-ministro.

O ex-ministro disse ainda que o aparecimento de seu nome neste momento das investigações pode estar associado a questões políticas.

- Só temo que pode estar havendo uso político do trabalho da CPI. Estamos em período de eleição e pode ter interesse partidário para prejudicar algumas candidaturas. Mas estou à disposição para qualquer esclarecimento e para dar informações - disse o ex-ministro.

Há preocupação no Planalto com os ataques aos ex-integrantes do governo e aos petistas nas investigações. Segundo integrantes do governo, o assunto foi analisado ontem em reuniões. A orientação é responder aos ataques. O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse que foi o governo Lula que iniciou as investigações sobre a Operação Sanguessuga. Ele reclamou ainda que alguns setores, citando a imprensa, tentam responsabilizar o atual governo.

- A Operação Sanguessuga foi o governo, a Controladoria Geral da União (CGU) quem levantou. São ações que se repetem desde 2000, com absoluta inércia do governo anterior - disse Tarso.

COLABOROU: Cristiane Jungblut

A MAIOR INVESTIGAÇÃO DA HISTÓRIA DO CONGRESSO

A CPI dos Sanguessugas divulgou a lista de mais 33 parlamentares notificados por suspeita de envolvimento com a máfia das ambulâncias. Todos terão cinco dias para apresentar defesa por escrito. Esses 33 somam-se à lista de 57 parlamentares já notificados semana passada. Contra os primeiros 57 já foram abertos inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Todos os 90 parlamentares relacionados nas duas listas são ainda suspeitos, pois não foram julgados. Fazem parte da nova lista três deputados do Rio de Janeiro, que somam-se aos 13 incluídos na primeira lista. A seguir, a lista dos 33 notificados ontem, que inclui dois senadores:

Adelor Vieira

PMDB-SC

Agnaldo Muniz

PP-RO

Almerinda de Carvalho

PMDB-RJ

Benjamin Maranhão

PMDB-PB

Carlos Dunga

PTB-PB

Carlos Nader

PL-RJ

Celcita Pinheiro

PFL-MT

Cesar Bandeira

PFL-MA

Cleuber Carneiro

PTB-MG

Coronel Alves

PL-AP

Érico Ribeiro

PP-RS

Feu Rosa

PP-ES

Gilberto Nascimento

PMDB-SP

Helenildo Ribeiro

PSDB-AL

Heleno Silva

PL-SE

Ildeu Araújo

PP-SP

João Grandão

PT-MS

João Magalhães

PMDB-MG

Jonival Lucas Junior

PTB-BA

Jorge Pinheiro

PL-DF

Josias Quintal

PSB-RJ

Josué Bengtson

PTB-PA

Marcondes Gadelha

PSB-PB

Marcos de Jesus

PFL-PE

Nilton Baiano

PP-ES

Paulo Gouvêa

PL-RS

Paulo Magalhães

PFL-BA

Ricardo Rique

PL-PB

Robério Nunes

PFL-BA

Saraiva Felipe

PMDB-MG

Wellington Roberto

PL-PB

Magno Malta

PL-ES

Serys Slhessarenko

PT-MT

OS OUTROS 57 PARLAMENTARES QUE ESTÃO SOB A INVESTIGAÇÃO (56 DEPUTADO FEDERAIS E 1 SENADOR)

Paulo Feijó (PSDB-RJ); Paulo Baltazar (PSB-RJ); João Caldas (PL-AL); Cabo Júlio (PMDB-MG); Pedro Henry (PP-MT); Bispo Wanderval (PL-SP); Iris Simões (PTB-PR); Benedito Dias (PP-AP); Lino Rossi (licenciado); Edir de Oliveira (PTB-RS); Teté Bezerra (PMDB-MT); Fernando Gonçalves (PTB-RJ); Almeida de Jesus (PL-CE); Pastor Amarildo (PSC-TO); Nilton Capixaba (PTB-RO); Reinaldo Betão (PL-RJ); Isaías Silvestre (PSB-MG); José Militão (PTB-MG); Wellington Fagundes (PL-MT); Mário Negromonte (PP-BA); Laura Carneiro (PFL-RJ); Zelinda Novaes (PFL-BA); Vieira Reis (PRB-RJ); Junior Betão (PL-AC); Ribamar Alves (PSB-MA); Eduardo Gomes (PSDB-TO); Eduardo Seabra (PTB-AP); Osmânio Pereira (PTB-MG); Jefferson Campos (PTB-SP); João Batista (PP-SP); Wanderlei Assis (PP-SP); João Mendes de Jesus (PSB-RJ); Dr. Heleno (PSC-RJ); Reinaldo Gripp (PL-RJ); José Divino (PRB-RJ); Alceste de Almeida (PTB-RR); Marcos Abramo (PP-SP); Nélio Dias (PP-RN); Ricarte de Freitas (PTB-MT); Cleonâncio Fonseca (PP-SE); Benedito de Lira (PP-AL); Reginaldo Germano (PP-BA); Ricardo Estima (PPS-SP); Newton Lima (PTB-SP); João Correia (PMDB-AC); Amauri Gasques (PL-AP); Maurício Rabelo (PL-TO); Coriolano Sales (PFL-BA); Almir Moura (PFL-RJ); Marcelino Fraga (PMDB-ES); Raimundo Santos (PL-PB); Edna Macedo (PTB-SP); Irapuã Teixeira (PP-SP); Itamar Serpa (PSDB-RJ); Enivaldo Ribeiro (PP-PB); Elaine Costa (PTB-RJ) e Ney Suassuna (PMDB-PB)