Título: DIVULGAÇÃO DE RELATÓRIO CAUSA TENSÃO
Autor: Bernardo Mello Franco/Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 26/07/2006, O País, p. 5

Demora na entrega de documento faz Gabeira dizer que relator não se move

BRASÍLIA. A CPI dos Sanguessugas apresentou ontem publicamente suas principais divergências, expondo uma divisão na comissão. A principal refere-se à data de divulgação do relatório final, que pedirá aos conselhos de Ética da Câmara e do Senado a abertura, ou não, de processos de cassação contra os parlamentares investigados. Favorável à divulgação do documento na semana que vem, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), disse que o relator, senador Amir Lando (PMDB-RO), está errado ao adiar a entrega do relatório.

- Se ele estivesse investigando, eu compreenderia. Ele, pura e simplesmente, não se move e diz que é preciso tempo para separar o joio do trigo - criticou Gabeira.

Gabeira e pelo menos quatro integrantes da CPI querem a abertura de processos de cassação ainda este ano. Eles consideram o que o depoimento do empresário Luiz Antônio Vedoin, líder da máfia dos sanguessugas, além das provas que ele apresentou, são suficientes para a conclusão do relatório e dizem que não há muito mais a fazer. Lando, candidato a governador de Rondônia, evitou o confronto e negou-se a responder as críticas:

- Não vou acrescentar nada.

Depois, Gabeira garantiu que tudo já estava resolvido entre ele e Amir Lando:

- Já tivemos uma boa conversa e está tudo superado.

Para tentar acertar os ponteiros, a CPI realizou uma reunião no início da tarde de ontem. Decidiu que Luiz Antônio Vedoin será ouvido pela comissão para desfazer as dúvidas de seu depoimento, que será fechado. A data e o local ainda não foram definidos. A CPI também definiu o dia 9 de agosto como o prazo para a entrega do relatório final. Mas para chegar a um consenso, houve muito bate-boca.

- Vamos trazer o Vedoin para um depoimento e vão aparecer 90 deputados acusados dizendo pra ele: "o que você tem contra mim!" - argumentou um deputado contrário à realização do depoimento.

- Não importa, temos que ouvir isso da boca dele - contra-argumentou um senador.

Deputado que integrava CPI passa a ser investigado

O deputado Marcondes Gadelha (PSB-PB), que até ontem era integrante da CPI dos Sanguessugas, passou à condição de investigado, sob a suspeita de participar do esquema de compra superfaturada de ambulâncias, e pediu para sair da comissão. O nome dele foi incluído na nova lista de 33 parlamentares que serão notificados a prestar esclarecimentos.

O presidente da CPI, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), aceitou o pedido de desligamento de Gadelha, sem divulgar o teor da carta em que o deputado pedia seu desligamento.

A nova lista deixou em situação delicada o senador Jonas Pinheiro (PFL-MT), membro suplente da CPI. A mulher dele, a deputada Celcita Pinheiro (PFL-MT), passou a integrar a lista de parlamentares investigados.

Políticos notificados se defendem

BRASÍLIA. Os deputados Cesar Bandeira (PFL-MA) e João Grandão (PT-MS) e a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) negaram acusações de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. A maioria dos 33 deputados notificados ontem está em campanha em seus estados e muitos não foram encontrados.

- Não conheço esse cidadão (Luiz Antônio Vedoin). Vou processá-lo - disse Bandeira.

Grandão sugeriu que há uma tentativa de envolver parlamentares do PT e se disse aliviado:

- Pelo menos agora tenho um foro legítimo para me defender.

Serys Slhessarenko lembrou que assinou o pedido de CPI e disse que em toda eleição é alvo de acusações pelo fato de ter presidido as CPIs do Narcotráfico e da compra de votos em Mato Grosso.

- Alguns fatos e revelações beiram o absurdo. Como não houve jeito de me incriminarem por meio dessa investigação, imputaram a mim uma emenda de R$300 mil para um posto de saúde em Pontes de Lacerda. Eu nem sabia que havia posto de saúde sendo construído lá, muito menos que se tratasse de emenda minha! Isso não tem nada a ver comigo! Não é emenda minha! - desabafou Serys.

O deputado Paulo Magalhães (PFL-BA) disse que está tranqüilo porque líderes do seu partido checaram o conteúdo das denúncias e constataram que contra ele não há acusação de crime.

- Não tenho nenhum envolvimento nesse escândalo.