Título: 'NÃO VEMOS EXPLOSÃO DE GASTOS'
Autor: Flávia Barbosa/Martha Beck
Fonte: O Globo, 26/07/2006, Economia, p. 21
Ministro diz ainda que país pode atingir déficit nominal zero em 2010
BRASÍLIA. A equipe econômica considera que não existe descontrole de gastos por parte da União. Para o governo, a meta da política fiscal - de economizar 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas geradas pelo país) para pagamento de juros - não só está preservada este ano como é suficiente para garantir a trajetória de queda da relação entre a dívida pública e o PIB - principal indicador de solvência pública. Inclusive, segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, se este objetivo de superávit primário for mantido nos próximos anos, o Brasil poderá, em 2010, chegar ao déficit nominal zero.
Alcançar esse cenário - que teria como pano de fundo a tendência de queda dos juros e de expansão da economia - equivaleria ao Brasil ter recursos para honrar todas as suas despesas, inclusive com juros, sem precisar contrair novas dívidas.
- No começo, era muito caloroso este debate sobre políticas monetária e fiscal, inclusive pelos meus pares (no PT). Hoje não faz mais sentido falar contra a política econômica. Vamos ser sinceros: a política é extremamente bem-sucedida - disse Paulo Bernardo ao GLOBO.
O ministro reafirmou que o governo nunca teve como intenção repetir, em 2006, o ritmo de superávit do ano passado - quando ficou acima de 5% em boa parte do ano, chegando a dezembro em 4,84%. Para a equipe econômica, a meta é 4,25%. Paulo Bernardo diz que a avaliação é que este patamar garante que o país chegue ao fim do ano com a relação dívida/PIB de 49%. Hoje, é 50,5%.
- Não vemos explosão de gastos. Estamos aproveitando condições melhores para fazer mais desembolsos. Mas este quadro também é impactado pela antecipação de despesas no primeiro semestre devido às eleições - pondera o ministro. - Ficar falando de gastos... A verdade é que o que está acontecendo hoje (na economia) é muita coisa.
Paulo Bernardo defende que não têm sido levadas em consideração, no debate, as condições macroeconômicas favoráveis. Ele enumera o que diz ser um cenário inédito: expansão econômica, de emprego, salários e massa salarial; inflação sob controle; e redução sustentável da taxa básica de juros. Especialmente a Selic em baixa e o PIB em alta são uma combinação favorável à queda da dívida pública. Isso reduziria a percepção de risco e o custo de financiamento do Brasil, aumentaria a capacidade de investimento do setor público e abriria espaço para juros mais baixos.
Para diretor do Ipea, queda de dívida/PIB poderia ser acelerada
Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, diz que estudo da instituição respalda a avaliação do governo de que os 4,25% garantem a trajetória de queda da relação dívida/PIB. Nas simulações do Ipea, observados patamares de crescimento, receita e juros, o déficit nominal zero seria alcançado em 2009. No mesmo cenário, a relação dívida/PIB cairia para 30% em 2012. Levy, no entanto, argumenta que o processo poderia ser acelerado se o superávit aumentasse agora:
- Isso permitiria que em dois anos o superávit já fosse declinante (liberando recursos para outras áreas). A questão é: poderíamos aproveitar as condições favoráveis para acelerar a queda da relação dívida/PIB, que é um indicador decisivo.