Título: BNDES: GASTO SOCIAL NO PAÍS CRESCEU, MAS NÃO HÁ INCHAÇO DA MÁQUINA
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 26/07/2006, Economia, p. 22

Em seminário internacional, presidente do banco critica 'mistificação do debate'

Mostrar que o governo Lula está gastando mais com o social, sem inchaço da máquina pública foi o objetivo do estudo lançado ontem pelo BNDES na abertura do seminário "Pobreza e desenvolvimento no contexto da globalização", promovido pelo Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, que acontece no banco até amanhã. Numa resposta aos críticos do aumento dos gastos correntes do governo, o presidente da instituição de fomento, Demian Fiocca, disse que é preciso separar no debate o custo de manter a máquina estatal dos "gastos finalísticos", como chamou o dinheiro destinado para Previdência Social, assistência social, educação e cultura, saúde, às organizações agrárias e trabalhistas e combate à pobreza:

- Há uma mistificação nesse debate. Fala-se em gastos correntes, como se fossem custeio da máquina. É preciso separar o gasto finalístico (benefícios diretos para a população) do que é custeio da máquina - disse Fiocca.

Pelo estudo, os gastos com salários dos servidores e manutenção da máquina caíram como proporção do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país): de 5,6%, na média anual entre 2000 e 2002, para 5,22%, de 2003 a 2005. Já as despesas com os chamados gastos sociais, ou finalísticos, como nomeou Fiocca, subiram de 9,26% do PIB para 10,48% nos últimos três anos.

- Quando se amplia a distribuição de recursos para as famílias pobres que têm acesso ao bolsa-família, a população não entende que é inchaço da máquina - rebateu Fiocca, reconhecendo que o estudo foi uma resposta aos críticos dos gastos do governo.

Foi incluído no boletim semanal o que seria uma prova da efetividade dessa política pública implantada pelo governo Lula, numa projeção já divulgada pelo BNDES no início de junho. Pelas contas do banco, a parcela da renda total da nação apropriada pelos 50% mais pobres subirá para 15,1% este ano, contra 13,2%, em 2002, e 12,1%, em 1994, atestando a melhora na distribuição de renda:

- Isso mostra a efetividade da política social adotada pelo governo. Uma coisa é discutir o mérito de mais ou menos salário-mínimo, ou mais ou menos Bolsa-Família. Outra coisa é discutir o inchaço da máquina. É importante que o debate seja feito de maneira mais clara.

Fiocca diz defender rigor nos gastos com o custeio do Estado, mas rejeita o ataque a todo gasto público, "porque dentro dele há gastos que são meritórios".

No mesmo seminário, o ministro--chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, ressaltou que o presidente Lula tem falado que não se pode chamar de gastos o combate à desigualdade:

- Ele diz que traz um virtuoso impacto econômico. E, sem o Estado, não há desenvolvimento, como ensinou Celso Furtado.

Já a representante da ONU no debate, Laís Abramo, afirmou que houve enfraquecimento dos estados nacionais. Isso aconteceu "com as regras financeiras prevalecendo sobre as sociais":

- Os que vivem na informalidade não têm acesso aos benefícios da globalização.

O fenômeno econômico, segundo Laís, deixou com pouca influência nas decisões os trabalhadores, principalmente em países em desenvolvimento:

- E ainda persiste na América Latina uma desigualdade inaceitável.

Por fim, o presidente do Centro Celso Furtado, Luiz Gonzaga Belluzzo, comemorou o fato de ser este o seu primeiro evento internacional, que debate temas caros ao economista - que foi ministro do Planejamento no governo João Goulart e da Cultura na gestão José Sarney - como pobreza e desigualdade. Ele espera que daqui para a frente o Centro inclua em seus debates aspectos como cultura, pois, segundo ele, não há liberdade sem entendimento.

"Quando se amplia o recurso para famílias pobres, a população não entende que é inchaço da máquina"

DEMIAN FIOCCA

Presidente do BNDES

"Os que vivem na informalidade não têm acesso aos benefícios da globalização"

LAÍS ABRAMO

Representante da ONU