Título: Bombardeio mata 4 da ONU
Autor:
Fonte: O Globo, 26/07/2006, O Mundo, p. 29

Annan pede investigação sobre mortes. Israel recria zona de segurança no sul do Líbano

BEIRUTE e JERUSALÉM

Seis anos após retirar-se do Líbano pressionado pelo grupo radical xiita Hezbollah, Israel anunciou ontem a criação de uma faixa de segurança no sul do país vizinho para proteger-se dos ataques de foguetes e das incursões dos guerrilheiros inimigos. A medida coincide com um novo plano que teria sido proposto pela secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, de envio de uma força internacional de paz e com a morte de quatro observadores da ONU num ataque israelense.

O conflito entre os dois lados continuou a fazer vítimas civis ontem, além dos quatro observadores da ONU, que foram atingidos pelo bombardeio israelense de um posto da força de paz da organização na fronteira libanesa. Não foram divulgadas as nacionalidades dos mortos, de países diferentes. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, se disse chocado e exigiu que Israel investigue o ataque "aparentemente deliberado". Israel lamentou as mortes. Annan propôs a criação de uma força de paz mais poderosa que a atual para patrulhar a fronteira. Israel, por sua vez, anunciou que permitirá o envio de ajuda humanitária por via aérea ao Líbano.

Zona-tampão sem tamanho definido

O ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, disse que forças do país deverão controlar a zona-tampão de segurança até que uma força internacional com entre 10 mil e 20 mil soldados possa ser deslocada para lá em uma ou duas semanas.

- Não temos outra opção - afirmou Peretz. - Temos de construir uma nova faixa de segurança que dê cobertura às nossas forças até que as forças internacionais cheguem.

Peretz não estipulou o tamanho da zona-tampão na fronteira com o Líbano, mas fontes do governo israelense e diplomatas ocidentais indicaram que deverá variar de 3 a 10 quilômetros de largura a partir da fronteira, que corre ao longo de 79 quilômetros. O ministro afirmou que a área de segurança será mantida inicialmente com ordens para atirar em qualquer um que entrar nela.

Segundo fontes do governo libanês ao qual o plano de Condoleezza teria sido apresentado - ela deverá tornar público o plano hoje numa conferência de paz em Roma - a proposta dos EUA envolveria o envio de 10 mil soldados turcos ou egípcios sob comando da ONU ou da Otan, e o posterior deslocamento de até 30 mil soldados para auxiliar o Exército libanês a controlar o sul do Líbano. Sem referir-se diretamente ao plano, Condoleezza ontem apenas ressaltou a visão de Washington de que a solução passa por desarmar o Hezbollah.

- Uma solução duradoura será uma que fortaleça as forças de paz e da democracia na região - disse Condoleezza, que se reuniu com o premier de Israel, Ehud Olmert, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas.

O presidente do Parlamento libanês, o xiita Nabih Berri, com quem Condoleezza se encontrou anteontem e que serve de intermediário com o Hezbollah, disse que o plano da secretária dividiria o Líbano e levaria o país a uma nova guerra civil. Por sua vez, o líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, disse que o grupo não aceitará nenhuma solução que comprometa a soberania do Líbano.

- Não podemos aceitar nenhuma condição humilhante para o nosso país, nosso povo, nossa resistência - disse ele, que ameaçou estender os bombardeios de foguetes para o centro de Israel.

Civis mortos chegam a 392 no Líbano

No sul de Beirute, 12 civis perderam a vida e uma família de sete pessoas morreu em Nabatiyeh quando sua casa foi atingida por um míssil. Outras duas pessoas também morreram no ataque. Com isso, o número de civis libaneses mortos chega a 392, segundo autoridades locais. Em Israel, uma adolescente morreu num ataque de foguetes contra a localidade de Maghar e um homem em Haifa, onde 19 pessoas ficaram feridas. Até agora, 19 civis morreram em Israel.

Nos combates em Bint Jebel, reduto do Hezbollah, forças israelenses afirmam ter matado entre 20 e 30 guerrilheiros. O chefe militar do Hezbollah no sul do Líbano, Abu Jaafar, teria morrido numa troca de tiros em Marun al-Ras, já tomada por Israel.

Temos de construir uma nova faixa de segurança até que forças internacionais cheguem

AMIR PERETZ, ministro da Defesa de Israel

Não podemos aceitar nenhuma condição humilhante para o nosso país, nosso povo

HASSAN NASRALLAH, líder do Hezbollah

www.oglobo.com.br/mundo