Título: MORALES: IGREJA AGE COMO NA INQUISIÇÃO
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 26/07/2006, O Mundo, p. 34

Presidente da Bolívia se indispõe com clero porque quer adotar educação laica no país

BUENOS AIRES. O presidente da Bolívia, Evo Morales, acusou ontem as autoridades eclesiásticas do país de atuarem "como nos tempos da Inquisição". A disputa entre o presidente e a Igreja foi desencadeada pela decisão do governo de propor um sistema laico de educação, projeto que será discutido pela Assembléia Constituinte que assume no dia 6 de agosto, em Sucre.

- Estou muito preocupado com o comportamento de algumas autoridades da Igreja Católica. Atuam como nos tempos da Inquisição - afirmou Morales.

Crise começou em julho passado

Morales pediu às autoridades eclesiásticas que "entendam a liberdade de religião e de crença em nosso país".

- Não é possível que tratem de impor um critério, somos católicos e vamos respeitar o catolicismo. Vamos respeitar a religião como uma matéria escolar - assegurou o presidente.

A crise entre a Igreja e o Poder Executivo aprofundou-se em 12 de julho, quando religiosos abandonaram o Congresso Nacional da Educação em meio a fortes críticas de funcionários do governo. O ministro da Educação, Félix Patzi, disse que "os padres oligarcas" conspiram contra o governo. Já a ministra de Governo, Alicia Muñoz, disse, durante um seminário sobre educação e religião, que em seus anos de estudante no Chile observou como "os bispos davam seu respaldo aos que matavam e faziam pessoas sumir".

A reação da cúpula eclesiástica foi imediata. A Confederação Episcopal da Bolívia expressou "profunda preocupação" e exigiu explicações do governo.

Em meio ao debate, foram convocadas manifestações em repúdio ao projeto do Poder Executivo em Santa Cruz. Grupos de pais, professores e estudantes organizaram ontem uma marcha "pela educação e a fé". Em seus seis primeiros meses de governo, o presidente Morales também protagonizou disputas com militares, empresários e com o governo dos EUA.

Na eleição da Assembléia Legislativa, em junho, seu partido, Movimento ao Socialismo (MAS), obteve bom resultado (53% dos votos), mas o governo precisará do apoio de setores da oposição para aprovar a reforma da Constituição nacional.