Título: ESQUEMA TERIA COMEÇADO A OPERAR HÁ 7 ANOS
Autor: Maria Lima e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 26/07/2006, O País, p. 3

Empresário conta como 20 empresas de fachada foram criadas para simular licitações

BRASÍLIA. No depoimento à Justiça Federal, o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin detalhou como começou o maior esquema de corrupção com emendas no Congresso Nacional já identificado até hoje. Ele disse que, no início, o deputado Lino Rossi (PTB-MT) o apresentou a outros parlamentares. Os primeiros a entrar na rede de corrupção, depois de Rossi, foram João Grandão (PT-MS), Ricarte de Freitas (PTB-MT) e Nilton Capixaba (PTB-RO), que, por sua vez, cooptaram outros parlamentares.

Vedoin contou com riqueza de detalhes como transformou, em pouco mais de dez anos, uma pequena empresa de consultoria do Mato Grosso numa articulada organização criminosa, com mais de 20 empresas que orbitam em torno da Planam (a maioria de fachada) e penetração em quase 20% dos gabinetes do Congresso.

Criada em 1993, a Planam prestava consultoria a municípios mato-grossenses. Ao perceber as dificuldades para obter verbas oriundas de emendas parlamentares, Vedoin passou a procurar os parlamentares. Segundo contou à Justiça, Vedoin e seu pai, Darci Vedoin, foram apresentados aos primeiros parlamentares por Rossi.

Vedoin diz que Lino Rossi o apresentou a outros deputados

¿O deputado Lino Rossi apresentou alguns deputados que eram vizinhos do quinto andar (do prédio de gabinetes da Câmara), como o deputado Renildo Leal (ex-deputado) e o deputado Dino Fernandes (PFL-RJ). Pelo fato de o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) fazer conexão na cidade de Cuiabá, quando do retorno para o seu estado, também foi apresentado¿, diz um trecho do depoimento.

A primeira venda de ambulância no esquema dos sanguessugas foi por intermédio de uma emenda de Nilton Capixaba, em 1999, contou Vedoin. O veículo foi comprado pela Prefeitura de Cacoal, em Rondônia.

A partir de 2000, Vedoin e seus sócios, entre eles Ronildo Medeiros, começaram a abrir empresas de fachada, a maioria em nome de seus parentes ou de laranjas. O objetivo, segundo disse o empresário no depoimento, era ¿dar cobertura nos processos de licitação¿, ou seja, atuar como falsas participantes em concorrências públicas abertas pelas prefeituras para aquisição de ambulâncias e outros equipamentos.

Quando o esquema se consolidou, Darci Vedoin passou a ter a rotina de um parlamentar: ficava de segunda a quinta-feira em Brasília, indo aos gabinetes em busca de emendas parlamentares. Em 2005, a Planam já tinha sedes nos estados do Mato Grosso, Rondônia, Acre, Piauí, São Paulo e Maranhão.

A propina por cada emenda parlamentar paga pelo governo federal oscilava entre 10% e 15%. Para cooptar outros parlamentares, a Planam também adotou a estratégia de oferecer pagamento adiantado pela apresentação de emendas.

Em seu longo depoimento, Vedoin mostrou uma precisão espantosa ao detalhar os acertos com cada parlamentar, desde 1999. Em relação ao ex-deputado José Antonio Nogueira (PT-AP) ¿ prefeito de Santana e coordenador da campanha do presidente Lula à reeleição no Amapá ¿ ele disse que os dois fizeram um acordo em 2003 para o pagamento de 10% de propina referente às emendas apresentadas na área da saúde.

Ajuda para campanha de petista no Amapá

¿A título de antecipação na comissão, o interrogando ajudou o então parlamentar na sua campanha municipal, conforme comprovantes de transferência de folhas 24 e 25 do avulso¿. Vedoin disse que fez um outro repasse de R$5 mil para a empresa SHF Palmerin, a pedido de Nogueira. Vedoin contou ter feito também outros repasses, sem valor detalhado, para o secretário de Nogueira, Ronaldo Lucas de Andrade.