Título: SANGUESSUGAS, INSACIÁVEIS, PEDIAM DE TUDO
Autor: Maria Lima e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 27/07/2006, O País, p. 5

Empresário disse em depoimento que demandas eram para campanha, compra de passagem e presentes variados

BRASÍLIA. Além dos acordos para recebimento de propina em dinheiro, em seu depoimento o empresário Luiz Antônio Vedoin disse que deputados e senadores faziam aos donos da Planam pedidos de ajuda para campanha, compra de passagens internacionais para parentes e presentes como ônibus, carros de luxo, aparelhos de ultrassom e até uma prosaica máquina de café para um gabinete. A maioria dos deputados acusados por Vedoin, porém, nega as denúncias. Mas todos os nomes citados foram incluídos nas listas divulgadas pela CPI.

Para agradar aos principais envolvidos no Congresso, os empresários da Planam compraram uma frota de veículos. Os carros entregues aos parlamentares seriam utilizados na maioria das vezes em campanhas políticas.

Depoimento sobre petebista enche três páginas

O caso que mais chama a atenção é do deputado Ricarte de Freitas (PTB-MT), que no inicio do escândalo alegou que, numa conversa gravada pela Polícia Federal com os donos da Planam, sua voz fora confundida com a do deputado Lino Rossi (PTB-MT), outro suposto integrante do esquema no Congresso.

Ao falar de Ricarte, o depoimento de Vedoin enche três páginas. Ele disse que o acordo para as propinas fora fechado em 10% do valor das emendas, mas ele exigiu um aumento para 15% por tratar-se de véspera de eleição.

Além do recebimento de vários repasses, que totalizam cerca de R$650 mil, segundo Vedoin, em propinas, Ricarte teria pedido de presente um carro. A Planam deu a ele um Fiat Ducato que, adaptado, atingiu o valor de R$72 mil. Mas Ricarte usou o carro por algum tempo e não gostou. ¿Passados alguns meses o parlamentar devolveu o veículo ao interrogando porque este pulava muito. Em troca adquiriu um veículo Hillux SW 4, na cor preta, da revendedora Maranelo, no valor de R$75 mil¿, disse Vedoin em seu depoimento.

Não parou por aí. Ricarte pediu e recebeu, segundo Vedoin, dinheiro para compra de quatro passagens aéreas para sua filha com destino a Nova York. Ele disse que Darci Vedoin, seu pai, deu três cheques, no valor de R$3.272, para pagar as passagens.

O deputado Lino Rossi (licenciado) recebeu dos Vedoin um Fiat Ducato e uma carreta no valor de R$104 mil. Segundo Vedoin, o carro foi repassado ao senador Magno Malta (PTB-ES), que o teria usado por cerca de um ano para carregar sua banda de música gospel Tempero do Mundo. O deputado Jefferson Campos (PTB-SP), segundo Vedoin, recebeu um ônibus equipado com consultório médico.

Já o deputado falecido José Carlos Martinez (PTB-PR), disse Vedoin, tinha despesas pessoais custeadas por ele. Isso incluía desde o pagamento de festas e camisetas para campanha até uma máquina de café para seu gabinete na Câmara dos Deputados.

Microônibus com palco para campanha eleitoral

O ex-deputado Múcio de Sá, ainda de acordo com o documento, teria recebido como pagamento dinheiro para pagar uma parcela de R$20 mil da compra de um Vectra. O deputado Coriolano Sales (PFL-BA) teria recebido da Planam o pagamento de metade de uma máquina de impressão de jornal, no valor de R$120 mil, usada em sua campanha eleitoral, também disse Vedoin.

Segundo Vedoin, o deputado Pastor Amarildo (PSC-TO) recebeu de presente um microônibus com palco adaptado para campanha eleitoral, no valor de R$40 mil. O paulista Neuton Lima (PTB-SP), um ônibus no valor de R$67 mil. Também para usar em sua campanha, o deputado Fernando Gonçalves (PTB-RJ) recebeu um ônibus medico odontológico, que, segundo Vedoin, teria custado R$54 mil.

Já o ex-líder do PP Pedro Henry (MT), que escapou da cassação por envolvimento no esquema do mensalão, de acordo com o empresário, recebeu, além de repasses do esquema sanguessugas, uma Blazer zero quilômetro, prata, no valor de R$48 mil.