Título: MANTEGA PERDE BRIGA PARA FURLAN
Autor: Patricia Duarte, Maria Fernanda e Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 27/07/2006, Economia, p. 28
Fazenda abriu mão da CPMF para beneficiar setor produtivo
BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acabou derrotado na queda-de-braço travada com seu colega do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, em torno da cobrança da CPMF sobre os recursos que os exportadores poderão deixar no exterior com o novo pacote cambial. A equipe da Receita Federal tentou até o último momento evitar a renúncia fiscal, mas, às 22h da terça-feira, Mantega deu o braço a torcer e optou por fazer a vontade do setor produtivo, abrindo mão de uma arrecadação anual de R$200 milhões.
Segundo uma fonte que acompanhou a negociação, estavam na mesa duas propostas: acabar totalmente com a cobertura cambial mas manter a cobrança da CPMF ou permitir que apenas 30% dos recursos ficassem no exterior sem a incidência do tributo. Acabou prevalecendo o argumento de Furlan, que, apoiado pelo Banco Central e pelo Ministério do Planejamento ¿ os dois outros vértices do Conselho Monetário Nacional (CMN) ¿ disse a Mantega que o setor produtivo não veria ganhos na medida sem desoneração tributária.
O próprio secretário de Política Econômica da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, que antes de ocupar o cargo era diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), apoiou a idéia de acabar com a incidência da CPMF para dar maior abrangência à medida.
¿ Sem a desoneração, a medida não teria eficácia e os exportadores não iam querer deixar o dinheiro fora do país ¿ disse Mantega, durante o anúncio do pacote.
O problema é que, até o início da semana, ele dizia que não abriria mão de arrecadação e que a Receita já havia encontrado uma forma de cobrança. Essa briga provocou uma guerra de números na própria equipe econômica. A Receita dizia que perderia R$1,1 bilhão, enquanto o grupo de Furlan falava em renúncia de R$206 milhões. O Banco Central, que sempre foi contrário à CPMF, aproveitou para reforçar o argumento do setor produtivo.
Segundo técnicos do Desenvolvimento, Furlan, apesar de defender o fim da cobertura cambial ou de 60% dela, comemorou a solução. (Martha Beck e Eliane Oliveira)