Título: COMBOIO DE BRASILEIROS PARTE VAZIO
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 27/07/2006, O Mundo, p. 34

Dos 400 lugares disponíveis para saída do sul, só 122 foram ocupados

BEIRUTE. Bastaram três dias sem bombardeios israelenses para diminuir o ímpeto dos brasileiros que moram no Vale do Bekaa em deixar o Líbano. A embaixada brasileira forneceu ontem 10 ônibus com capacidade para aproximadamente 400 pessoas mas apenas cerca de 120 apareceram no pátio da Universidade de El Khiara na hora do embarque rumo a Damasco, na Síria. Com isso, o que deveria ser um comboio internacional com cidadãos do Brasil, Canadá, Argentina e Paraguai, se transformou em frustração. Mesmo assim o governo brasileiro garante que continuará colocando ônibus à disposição.

Segundo os organizadores da caravana, uma série de motivos colaborou para o insucesso da operação. O principal deles é a interrupção dos bombardeios. Os moradores do Bekaa acham mais seguro ficar em casa do que correr o risco de entrar no comboio sem que o governo de Israel tenha dado garantias de segurança.

Moradores não tiveram tempo para organizar saída

Outro motivo é a possibilidade de terem suas casas invadidas durante a ausência. Segundo moradores da região, são comuns os casos de refugiados do sul do Líbano que chegam ao Vale do Bekaa e se apoderam das residências vazias. Como grande parte dos intrusos têm ligações com o Hezbollah, fica difícil reaver os imóveis.

Além disso, existem motivos de ordem prática. A operação foi desencadeada a partir da tarde de ontem. Líderes da comunidade brasileira percorreram mais de 25 cidades da região e as mesquitas anunciaram a partida do comboio durante as orações. Muitos moradores, no entanto, não tiveram tempo para resolver problemas domésticos.

¿ Muita gente aqui tem empregados das Filipinas e do Sri Lanka, contas a pagar, coisas que demoram para resolver ¿ disse Mohamad Abduni, um dos líderes da comunidade.

Segundo ele, horas após a partida uma fila de 50 pessoas querendo ir para a Síria se formou na porta da sua casa.

¿ Disse para eles irem por conta própria em táxis ou vans e se juntarem ao pessoal em Damasco ¿ afirmou.

O Itamaraty não soube informar se os ônibus levaram canadenses, argentinos e paraguaios, como estava planejado. Outros quatro ônibus transportando cerca de 200 pessoas saíram ontem de manhã do consulado brasileiro em Beirute rumo a Adana, na Turquia. Entre os passageiros havia três argentinos.

¿ Sou muito grato ao governo brasileiro. Se não fosse por ele não conseguiríamos sair daqui em segurança ¿ disse o argentino Manuel Hassan.

Enquanto os brasileiros que estão no Líbano vivem o drama da fuga, os que vivem em Israel apóiam os bombardeios.

¿ Não podemos fugir como coelhos assustados. Eles invadiram o país, seqüestraram os soldados ¿ disse Rafael Suckever, de 50 anos, que mora em Carmel. (Ricardo Galhardo e Carol Knoploch)