Título: ISRAEL PERDE 9 NO LÍBANO E MATA 23 EM GAZA
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Fonte: O Globo, 27/07/2006, O Mundo, p. 35

Hezbollah resiste a avanço israelense entrincheirado em cidade no sul e oficiais prevêem campanha extensa

BEIRUTE. Numa encarniçada batalha pelo controle da cidade de Bint Jebeil, reduto do Hezbollah a poucos quilômetros da fronteira, o Exército de Israel perdeu ontem oito soldados, mortos numa emboscada. Outro militar morreu na aldeia de Marun al-Ras e cerca de 30 ficaram feridos nas duas áreas, num dia de pesadas baixas para as forças israelenses. Já da milícia xiita não se sabe ao certo o número de mortos, mas Israel afirma ter matado 30 guerrilheiros em combates nos últimos dias. Em Gaza, ataques israelenses deixaram pelo menos 23 palestinos mortos.

Nos ataques do Hezbollah, cerca de 150 foguetes foram disparados contra Haifa e outras cidades e localidades do norte de Israel, sem causar mortes, mas ferindo 55 pessoas.

Os combates por Bint Jebeil, começaram domingo e calcula-se que entre 150 e 200 militantes xiitas estejam entrincheirados na cidade, tida por Israel como ¿a capital do Hezbollah¿ no sul do Líbano. Milhares de soldados israelenses estão tomando parte no cerco, considerado difícil pelo oficiais, que prevêem uma campanha militar extensa.

¿ Dado o progresso das duas últimas semanas, acho que o conflito vai continuar por mais tempo ¿ reconheceu o general Udi Adam, chefe do Comando Norte do Exército de Israel.

Ferocidade da batalha atrasa remoção de feridos

A remoção dos feridos de Bint Jebeil ¿ cinco deles em estado grave ¿ para Haifa levou horas porque os helicópteros de resgate não podiam se aproximar da zona de combates.

¿ Foi uma luta corpo-a-corpo. Os terroristas nos surpreenderam ao raiar do dia e o combate foi muito duro ¿ disse no hospital o sargento Ran Boné, de 19 anos.

Israel perdeu 29 militares até agora e o Hezbollah admite apenas 28 baixas, mas o Exército israelense diz já ter matado mais de 130 guerrilheiros.

Em outros ataques israelenses, um edifício em Tiro foi destruído por mísseis cujo alvo era o xeque Nabil Kaouk, principal líder do Hezbollah no sul do Líbano, que escapou. Mas seis pessoas ficaram feridas, segundo vizinhos. Outras localidades da região foram bombardeadas. Em Nabatiyeh foi destruída uma sede do grupo xiita Amal, que se aliou ao Hezbollah na luta. Em Anjar, um caminhão com ajuda humanitária enviada pelos Emirados Árabes Unidos foi atingido e o motorista sírio morreu.

Já em Beirute pousaram três aviões jordanianos no aeroporto, reaberto pela primeira vez desde que suas pistas foram bombardeadas por Israel. As aeronaves levaram um hospital de campanha e material médico para a capital libanesa, de onde retiraram 150 feridos. Por sua vez, um comboio da ONU chegou a Tiro com 90 toneladas de alimentos e suprimentos médicos após coordenação com Israel para evitar ataques.

O premier de Israel, Ehud Olmert, afirmou ontem ao Parlamento que a ofensiva no Líbano vai continuar até que o Hezbollah seja desarmado. Segundo ele, a zona de segurança que será criada terá dois quilômetros de largura a partir da fronteira. Olmert, no entanto, descartou a reocupação da área, de onde Israel se retirou em 2000.

Erekat pede que mundo não esqueça os palestinos

Segundo o jornal ¿Ma¿ariv¿, 80 tratores blindados estão trabalhando 24 horas por dia para limpar uma área onde as forças israelenses tenham controle de quem entra e quem sai.

¿ Não há intenção de retornar à (antiga) zona de segurança, mas sim criar uma área maior em que o Hezbollah não esteja presente.

Na Faixa de Gaza, onde Israel realiza outra ofensiva, pelo menos 30 tanques e blindados penetraram dois quilômetros na parte norte do território, onde um militar israelense se encontra refém de militantes palestinos. Ao todo, 23 palestinos morreram ¿ entre eles nove militantes, três crianças e um deficiente físico ¿ no dia de maior número de vítimas nas duas últimas semanas em Gaza. Cerca de 75 pessoas ficaram feridas nos ataques, seis em estado crítico. Saeb Erekat, um dos principais assessores do presidente Mahmoud Abbas, apelou ao mundo para não deixar de olhar os palestinos, apesar da violência no conflito do Líbano.

¿ Esta é a guerra esquecida ¿ lamentou ele. ¿ Exortamos a comunidade internacional a intervir.