Título: GANÂNCIA NO SEGUNDO ESCALÃO DA MÁFIA
Autor: Alan Gripp e Maria Lima
Fonte: O Globo, 28/07/2006, O País, p. 3

Deputados cresceram no esquema e passaram a cooptar outros parlamentares

BRASÍLIA. Para ampliar seus negócios no Congresso, o chefe da máfia dos sanguessugas criou braços para alcançar parlamentares em todos os partidos. Segundo Luiz Antônio Vedoin, os deputados Lino Rossi (licenciado), Ricarte de Freitas (PTB-MT), Nilton Capixaba (PTB-RO) e o ex-deputado Carlos Rodrigues (sem partido) cresceram tanto no esquema que passaram a trabalhar na cooptação de outros parlamentares.

Segundo Vedoin, Lino Rossi, ex-apresentador de TV, chegou a propor que, além das propinas cobradas sobre suas próprias emendas, recebesse mais 2% de comissão sobre as emendas de cada parlamentar que levasse para o esquema.

Em seu depoimento à Justiça Federal, Vedoin disse ter considerado o percentual alto e ter rompido com Lino Rossi depois de dar de presente a ele uma carreta, um Fiat Ducato e fazer cerca de 70 repasses de comissões pelas emendas apresentadas pelo parlamentar em cinco anos. O Fiat Ducato de fato está no nome da mulher de Lino Rossi.

Após o racha, aproveitando-se dos conhecimentos adquiridos com os sanguessugas, segundo Vedoin, Rossi teria criado um esquema particular. Segundo o empresário, Rossi conseguiu R$650 mil de recursos extra-orçamentários para o município de Chapada dos Guimarães (MS) e R$300 mil para Luciara (MS) para a compra de equipamentos médicos hospitalares. ¿A empresa vencedora, nessas licitações, pertence à esposa do deputado Lino Rossi¿, denunciou Vedoin, em seu depoimento.

Na bancada do PL, segundo Vedoin, quando o ex-deputado Carlos Rodrigues era o líder, cabia a ele coordenar e administrar as emendas apresentadas na bancada dos evangélicos. Rodrigues negociava o percentual de propina e as emendas que seriam apresentadas por cada um. Sempre em favor da Planam.

Segundo Vedoin, ele operava o esquema junto com a chefe de gabinete da liderança do PL, Adarildes Moraes Costa. Em certo momento, contou o empresário, a assessora teria ficado mais forte no esquema que o próprio Rodrigues e teria passado a negociar pessoalmente as emendas.

Assessora do PL chantageou Planam e ganhou R$200 mil

Além de cobrar comissão de 3% sobre o valor das emendas negociadas de cada parlamentar que ela controlava, segundo Vedoin, Adarildes vendia a emenda para esquemas concorrentes do grupo e passou a chantagear a Planam, ameaçando revelar o esquema. Rodrigues convenceu Vedoin a pagar R$200 mil.

¿Caso contrário denunciaria o esquema da bancada da Igreja Universal; que esse incidente ocorreu logo após o deputado Bispo Rodrigues ter renunciado ao mandato, em outubro de 2005; que Bispo Rodrigues, diante dessas chantagens, procurou o interrogando pedindo para que ajudasse a resolver essa situação de Adarildes e chegou a reunir-se com ela e o interrogando no flat Meliá Brasília; que para Adarildes não denunciar aceitou receber R$200 mil em cheques garantia¿, diz o depoimento de Vedoin.

O deputado Ricarte de Freitas também agia com desenvoltura com o esquema dos sanguessugas. Pegava dinheiro adiantado. Tinha aval dos empresários para pegar empréstimos em instituições de factoring, recebia carros luxuosos e passagens para Nova York de presente. Seus assessores faziam o pagamento de propinas a prefeitos que participaram da fraude em licitações. Segundo o depoimento de Vedoin, o prefeito de Juara (MT) recebeu sua propina de R$72 mil das mãos de Wagner e Kleber, assessores de Ricarte.