Título: MUITO MAIS DO QUE QUEBRA DE DECORO
Autor: Maria Lima e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 28/07/2006, O País, p. 4

Parlamentares podem responder por desvio de dinheiro público

BRASÍLIA. Integrantes da CPI dos Sanguessugas disseram que a participação efetiva de parlamentares no esquema que fraudava a compra de ambulâncias, inclusive com a cooptação de prefeitos, é um crime de desvio de dinheiro público e que a punição não poderá ser apenas por quebra de decoro parlamentar. Para o sub-relator da CPI, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), as revelações feitas pelo empresário Luiz Vedoin, apontado como o chefe da quadrilha, são graves e mostram a atuação concreta de parlamentares no esquema.

¿ Acho que houve claramente quebra de decoro e mais do que isso. Se tudo o que ele disse for comprovado, houve crime com dinheiro público ¿ disse Delgado.

O vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), concordou:

¿ Negociar com prefeito é algo normal. Mas negociar com prefeito para tirar alguma vantagem financeira e desviar dinheiro público é uma indecência, sem sombra de dúvida. No mínimo, quebra de decoro.

O controlador-geral da União, Jorge Hage, confirmou que a cooptação de prefeitos por parlamentares era uma das formas de atuação da quadrilha. Segundo Hage, os donos da Planam procuravam prefeitos e depois compravam parlamentares para que eles apresentassem emendas e então negociavam com políticos no Congresso e esses convenciam seus prefeitos a participar da fraude.

¿ Eles agiam de várias formas, mas sempre sob a coordenação de um mesmo grupo. O importante é que isso está aparecendo, porque todo mundo sabia que havia corrupção, mas ninguém colocava a mão na ferida.

O presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), disse que os donos da Planam reuniram documentos contra parlamentares porque temiam que um dia fossem descobertos.

¿ A quadrilha foi se documentando, foi se preparando para um eventual momento como este de investigação, com seus membros sendo presos. Eles estão bem documentados e o material é vasto. Ele (Vedoin) pode até estar protegendo alguém, mas quando ele faz uma acusação e prova isso, dá veracidade a seu depoimento.

Os integrantes da CPI se envolveram ontem numa polêmica em torno da notificação de mais quatro deputados ¿ dois do PFL, um do PSDB e um do PP ¿ citados em levantamento da Controladoria Geral da União. De manhã, Biscaia anunciou que os deputados seriam notificados. À tarde, o sub-relator Carlos Sampaio (PSDB-SP), disse que não havia provas contra os quatro deputados. Sampaio se reuniu com Jorge Hage e depois afirmou que a decisão de notificar parlamentares é do presidente da CPI, mas que ele está convencido de que não há provas para incluí-los na lista.

¿ Foi um levantamento estatístico e não investigativo e também não há indícios contra esses deputados.

Em nota, o deputado Josias Quintal (PSB-RJ) protestou ontem contra a inclusão de seu nome na lista dos investigados: ¿É lamentável que, embora eu tenha respondido aos questionamentos da CPI, meu nome não tenha sido retirado do rol de suspeitos. Faz-se necessário elucidar, e reiterar, que não tive qualquer participação nesse abominável esquema de corrupção, fato reconhecido pelo próprio Vedoin em seu depoimento, visto haver este proferido claramente que não apresentei emendas para a compra de ambulâncias¿.

(*)Da CBN, especial para O GLOBO