Título: EMPRESÁRIO DIZ TER FICADO ADMIRADO COM A OUSADIA DOS PARLAMENTARES
Autor: Maria Lima e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 28/07/2006, O País, p. 4

Deputado do PL propôs emendas para centro que nem atendia ao público

BRASÍLIA. A ousadia com que alguns parlamentares agiam para aumentar seus ganhos com o desvio de recursos públicos deixou admirado o chefe do esquema, Luiz Antônio Vedoin, segundo ele revelou no depoimento à Justiça. No caso de deputado Júnior Betão (PL-AC), a proposta seria, segundo ironizou o autor do depoimento, tão escandalosa que Vedoin disse ter desistido.

De início, Betão, segundo o empresário, destinou em 2004 duas emendas ¿ de R$768 mil e R$360 mil ¿ para o Centro Acreano de Inclusão Social, de sua propriedade, para a compra de ambulâncias. Mas a entidade sequer prestava atendimento público. Vedoin disse que pagou a Betão 15% sobre o valor das duas emendas: R$170 mil.

Proposta de R$290 mil considerada inaceitável

No ano seguinte, contou Vedoin, o deputado teria feito outra emenda, no valor de R$290 mil, para o mesmo Centro Acreano. Desta vez, para a suposta aquisição de medicamentos. Mas o próprio Vedoin teria considerado a proposta do deputado inaceitável, segundo disse em seu depoimento: ¿Por essa emenda o deputado estava pretendendo receber uma comissão de R$230 mil; que o interrogando (Vedoin) não executou a licitação em razão do valor excessivo da comissão; que então o deputado Betão procurou Maria da Penha Lino (funcionária do Ministério da Saúde) para ver se ela conseguiria outra pessoa para fazer a licitação; que o interrogando não aceitou realizar a licitação porque o deputado estava apenas querendo comprar as notas fiscais dos medicamentos.¿

Sobre o deputado estreante Ildeu Araújo (PP-SP), Vedoin chegou a tripudiar, no depoimento à Justiça, da ¿falta de compromisso¿ com o mandato. Eleito com apenas 200 votos na esteira de Enéas Carneiro (Prona-SP), Araújo não pensou duas vezes, segundo o empresário, para tentar tirar proveito de sua passagem pelo Congresso.

Vedoin disse que fez com ele acordo para pagamento de 12% de propina sobre o valor das emendas, mas o deputado teria exigido receber R$50 mil antes mesmo de executar as emendas. Acabou recebendo R$19.200, segundo Vedoin disse ao juiz, e o acordo foi rompido: ¿O parlamentar foi eleito com apenas 200 votos, em razão da larga votação recebida pelo deputado Enéas Carneiro, e não tinha compromisso com o mandato e literalmente vendeu a emenda, negociando percentuais sobre o seu valor, dos quais exigia pagamento antecipado¿, afirmou Vedoin no relato.

Vedoin disse ainda que, em outro caso, o deputado Benedito Dias (PP-AP), não satisfeito com as comissões recebidas, lhe propôs a criação de uma empresa para fraudar recursos no seu estado, o Amapá. Criaram então a Amapá Serviços e o deputado pôs seu assessor Erick Jansen como testa-de-ferro na sociedade. Em nove meses a empresa ganhou licitações para compra de equipamentos médicos com recursos destinados por Benedito Dias ao estado. No depoimento de Vedoin consta: ¿O parlamentar retirava, mensalmente, cerca de 60% e o interrogando, 40%¿.