Título: LULA SOBRE MÁFIA: `A NINHADA ESTÁ SENDO PEGA¿
Autor: Cristiane Jungblut e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 28/07/2006, O País, p. 8

Deputado? Isso é filial. A matriz é o governo federal. O dinheiro sai do Ministério da Saúde¿, afirma Alckmin

BRASÍLIA. Reforçando a linha de defesa do Planalto em relação à máfia dos sanguessugas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em entrevista à rádio CBN, que o escândalo só se tornou público porque o próprio governo investigou e denunciou. Lula afirmou, na entrevista, que não foi o Congresso que iniciou as investigações, mas a Controladoria Geral da União. Já o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, voltou a dizer que a maior responsabilidade no escândalo dos sanguessugas é do governo federal.

Sem citar nomes de parlamentares envolvidos, como integrantes do próprio PT, o presidente disse que a ¿ninhada está sendo pega¿.

¿ É importante a sociedade saber que essas coisas estão vindo a público porque o governo federal resolveu fiscalizar. E vamos fiscalizar muito mais. Isso não começou no Congresso, começou com o governo federal. Foi o governo federal, através da Controlaria Geral da República (na verdade, da União), que fez a primeira denúncia e começamos a primeira investigação. E quando começamos a investigação era preciso que ela fosse sigilosa para você não espantar as andorinhas ¿ disse Lula à CBN, acrescentando:

¿ Porque no Brasil, muitas vezes, quando se começa uma investigação que tem uma manchete de jornal, os pássaros fazem uma revoada. Temos que fazer da forma que a polícia moderna faz, fazer uma coisa sigilosamente para, quando pegar, pegar a ninhada inteira. E ela (ninhada) está sendo pega.

Ainda na entrevista, Lula disse que seu governo modernizou a Polícia Federal, aumentando em 34% o seu efetivo, e fortaleceu a CGU.

¿ É uma necessidade do Estado brasileiro ter uma máquina sadia ¿ disse Lula

Alckmin: ¿Não há controle com o dinheiro público¿

Em Belo Horizonte, quando perguntado sobre o envolvimento de prefeituras do PSDB e do PFL no escândalo dos sanguessugas, Alckmin defendeu a investigação em todas as instâncias, mas repetiu que o dinheiro desviado é do governo federal.

¿ É preciso investigar. Isso vale para todo mundo. Eu queria deixar claro o seguinte: deputado? Isso é filial. A matriz é o governo federal. O dinheiro sai de onde? Sai do Ministério da Saúde. Quem libera o dinheiro precisa fiscalizar, precisa controlar. Isso mostra que não há controle com o dinheiro público, não há avaliação dos programas, não tem análise de custo, um desperdício absoluto ¿ afirmou o tucano.

Alckmin reagiu também ao discurso de petistas de que as fraudes descobertas agora tiveram início durante o governo de Fernando Henrique Cardoso:

¿ Primeiro, é preciso verificar. O PT, no passado, se dizia o dono da ética. Agora, quer dizer o contrário. Tenta dizer que somos todos iguais, mas isso não é verdade. Está errado o que eles estão fazendo. Então, em vez de prestar contas à sociedade, querem dizer que já teve antes. Tudo bem. Se teve antes, é preciso também investigar.

Para Tarso, escândalo será tema da disputa eleitoral

No Planalto, à tarde, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, justificou a ofensiva recente do governo sobre o caso dos sanguessugas repetindo o discurso de Lula na entrevista. O ministro afirmou que é preciso ficar claro que o governo não é réu nesse caso e sim autor de uma investigação completa, segundo ele a mais ampla dos últimos 30 anos. Ele admitiu que o caso pode virar tema na disputa eleitoral.

¿ O governo foi obrigado a repassar essas informações porque está se passando uma imagem inadequada, como se o governo eventualmente fosse réu no processo de investigação política. Foi uma ação defensiva para mostrar sua capacidade. Um governo que não se defende, inclusive de infâmias, é um governo que não merece governar ¿ disse Tarso, chamando de ínfimo o número de pessoas do PT citadas em comparação com os outros partidos.

Mas ele afirmou que cabe aos partidos falar sobre o assunto.

¿ Se os partidos quiserem, poderá ser uma questão eleitoral -¿ disse.