Título: CONAR VETOU PROPAGANDA COM GAYS
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 28/07/2006, O País, p. 15

Relator considerou anúncio do Ministério da Saúde constrangedor

BRASÍLIA. Entidades da sociedade civil que atuam em defesa dos direitos dos portadores do vírus da Aids estão indignadas com uma decisão do Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (Conar), que vetou a veiculação na TV de uma propaganda do Ministério da Saúde direcionada aos homossexuais. Apesar da proibição ser de agosto de 2002, as ongs só tomaram conhecimento da proibição agora, quando o grupo Pela Vidda, de São Paulo, que está organizando uma mostra itinerante de filmes sobre Aids, pediu ao governo federal uma cópia do anúncio. O Ministério da Saúde informou que não poderia ceder a peça publicitária por causa do veto do Conar.

O filme foi veiculado em 2002, durante 15 dias, e custou R$3 milhões. Na propaganda, um pai atende à porta e dispensa um rapaz, dizendo que o filho não quer mais vê-lo. De volta à sala, diante do filho desconsolado, o pai avisa que o rapaz já foi embora e diz: ¿Você encontrará outro, não fique triste.¿ A mãe, ao lado, complementa: ¿Outro que use camisinha¿. No final, aparece a mensagem de que ¿respeitar as diferenças é tão importante quanto usar camisinha¿.

O Conar recorreu a argumentos morais para recomendar a suspensão da propaganda. O relator do processo no conselho, Pedro Kassab, afirmou no seu parecer que o anúncio ¿choca o núcleo familiar¿, é constrangedor e tem impacto negativo indiscutível: ¿Esse impacto carrega consigo inegáveis efeitos negativos, contraproducentes e fortemente chocantes. No ambiente familial, de que fazem parte crianças, jovens, adultos e idosos, às vezes com visitantes, colaboradores domiciliares e outros, em diversos graus de intimidade ou de formalismo, o anúncio é causador de constrangimento, o que se agrava se houver alguém presente que seja portador da diferença, assumida ou oculta, ou pessoa de sua família. A força do impacto negativo é indiscutível¿, afirmou o relator.

Mário Scheffer, do Pela Vidda, disse que, se tivesse tomado conhecimento à época da proibição, teria organizado uma mobilização contra a decisão do Conar.

¿ É lamentável que o governo tenha gasto tanto dinheiro num filme que não pode ser exibido justamente para quem deveria ser o público-alvo, que são os homossexuais. É uma censura absurda e vamos tentar derrubá-la ¿ disse Scheffer.

O anúncio foi a única propaganda de TV feita pelo governo destinada aos homossexuais. Scheffer disse que o Pela Vidda pediu ao Conar a revisão da decisão. O Conar informou que o veto à propaganda dizia respeito apenas à exibição como peça publicitária.