Título: OMC: NEGOCIAÇÃO PODE PARAR POR 3 ANOS
Autor: Luciana Brafman
Fonte: O Globo, 29/07/2006, Economia, p. 34

Previsão é da representante dos EUA, caso as negociações não sejam retomadas até março

Empenhada na tarefa de retomar as negociações da Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC) ¿ suspensas esta semana após o fracasso da reunião ministerial em Genebra ¿ a representante comercial dos Estados Unidos, Susan Schwab, disse ontem, no Rio, que se as conversas não forem reiniciadas até março do ano que vem, o processo pode ficar congelado por até três anos. Susan Schwab se encontra hoje com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na primeira de uma série de reuniões que terá ao longo dos próximos meses com ministros de diversos países.

¿ Se não conseguirmos vencer o impasse até a primavera (no Hemisfério Norte), serão provavelmente dois a três anos a contar de agora (para retomar as negociações) ¿ disse a representante americana.

Uma de suas preocupações quanto ao prazo diz respeito ao vencimento do mecanismo chamado Trade Promotion Authority (TPA), que permite ao poder Executivo dos EUA firmar acordos comerciais sem alterações pelo Congresso daquele país. Pelo TPA, que expira em julho do ano que vem, o Congresso precisa de 90 dias para aprovar um acordo, daí a importância de que haja um consenso até março.

¿ É uma corrida contra o relógio ¿ afirmou Schwab.

Representante destacou influência do Brasil

Segundo a representante americana, na teoria, é possível reabrir as negociações de Doha a qualquer momento. Na prática, porém, ela avalia a situação como complexa:

¿ Há muito acontecendo: acordos em andamento, outras questões comerciais, litígios. Nada disso pára, enquanto Doha não recomeça. Após um tempo, o que já negociamos até agora ficará obsoleto.

Para que isso não ocorra, Schwab trava uma série de contatos com representantes de diversos países. Desde a reunião em Genebra, ela já falou por telefone com os representante de México, Malásia, Hong Kong, Austrália, Nova Zelândia e Canadá, e se prepara para um encontro nos próximos meses com ministros da Ásia Oriental.

A reunião com Amorim será uma tentativa de avaliar por que as negociações foram interrompidas e qual a distância entre as posições defendidas pelos países. Schwab disse que discutirá ainda com o ministro se há mudanças substanciais para serem apresentadas pelos países e como é possível convergir. Apesar de manter esperanças em relação a Doha, a representante americana foi realista, quando perguntada sobre o pior cenário projetado:

¿ Não ser possível retomar Doha seria terrível. Mas, se isso acontecer, não será porque não tentamos. Faremos um esforço.

Schwab afirmou que o Brasil ocupa uma posição única na OMC e destacou a influência que pode exercer sobre outros países em desenvolvimento. Se não houver sucesso nas negociações, ela disse que o país deixará ¿muita coisa na mesa¿.

¿ Mas o Brasil ganha se a União Européia abrir o mercado agrícola e os EUA cortarem os subsídios aos produtores domésticos ¿ disse, ressaltando que seu país foi flexível quando se propôs a cortar os subsídios e tarifas sobre as exportações, ao contrário de outros grupos, como a União Européia, de quem espera avanços nas propostas.

Em relação às declarações do senador americano Charles Grassley de que o Sistema Geral de Preferências (mecanismo que permite que países exportem com isenção de taxas aos EUA) deveria ser cancelado, Schwab disse que não teve a oportunidade de falar sobre o assunto com o político, mas que a posição dos EUA é manter o mecanismo, de uma forma renovada. Segundo ela, Brasil, Índia e Tailândia são os principais beneficiários do sistema, com um terço dos US$27 bilhões gerados no ano passado.