Título: O RENASCIMENTO DE UM VELHO ORIENTE MÉDIO
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Fonte: O Globo, 29/07/2006, O Mundo, p. 38

Depois de um café turco pela manhã, folheio um exemplar do ¿The Syria Times¿, o jornal local em inglês, e meus olhos imediatamente se dirigem para um pequeno box no alto da primeira página. Dizia: ¿O Oriente Médio às vésperas da Modernidade, na página 5¿.

Pensei: qual é a maneira perfeita de descrever o Oriente Médio hoje; voltando para alguma era pré-Moderna? Ah, o ¿The Syria Times¿ não estava tentando ser irônico. A reportagem se referia ao título de um livro sobre o século XVIII. Mas se fosse uma manchete do noticiário atual, continuaria sendo apropriado.

Condoleezza Rice deveria estar sob efeito do jet lag quando disse que o que está acontecendo no Líbano e no Iraque hoje é ¿o nascimento de um novo Oriente Médio¿. Desejaria que fosse isso. Mas o que estamos vendo atualmente é o renascimento de um velho Oriente Médio, cujo motor é o petróleo e as mais destrutivas armas.

Algumas das mais primitivas paixões tribais ¿ que sempre se escondem debaixo da rivalidade entre sunitas e xiitas, judeus e muçulmanos, libaneses e sírios, mas são freqüentemente sufocadas pelos Estados modernos e seus laços de civilização ¿ estão emergindo.

Não há nada que não se possa fazer no Oriente Médio hoje, e não há líder ¿ nenhum Nelson Mandela ¿ ou movimento nesta região para pôr um fim a essa loucura.

E eu quero dizer loucura mesmo. Nós temos visto muçulmanos sunitas no Iraque explodindo como homens-bomba em mesquita xiita no Ramadã; temos visto militantes xiitas torturando iraquianos sunitas; parlamentares islâmicos da Jordânia de luto com a morte do terrorista Abu Musab al-Zarqawi, apesar de ele ter ordenado um atentado a bomba num casamento jordaniano; temos visto centenas de homens-bomba palestinos explodindo em cafés e ônibus israelenses, e Israel retaliar diversas vezes, destruindo prédios ocupados por culpados e inocentes.

Agora, vemos o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, levando todo o Líbano a uma devastadora guerra com Israel, somente para melhorar seu relacionamento político com o Irã.

Os Estados Unidos tentam estimular forças de ordem, como Europa, Rússia, China e Índia, para uma coalizão. Mas nós não podemos fazer parte. Por que? Em parte, porque nosso presidente, embora fale com grande moral, não tem autoridade. Ela foi destruída pela performance no Iraque.

O mundo odeia George W. Bush mais do que qualquer outro presidente dos Estados Unidos. Ele está tão enrolado em sua bomba ideológica que é incapaz de imaginar ou forjar estratégias alternativas.

Nesse cenário, não haverá novo Oriente Médio, nem nos moldes de cidadãos como o primeiro-ministro Rafik Hariri, que baixou as armas; nem nos moldes de cidadãos do velho Oriente Médio, como Nasrallah, que usa todos os seus recursos para a guerra. Nesse cenário, estaremos desperdiçando nosso tempo e os árabes desperdiçando seu futuro. Estarão sempre às vésperas da Modernidade.

THOMAS L. FRIEDMAN é colunista do New York Times