Título: BUSH QUER FORÇA DE PAZ NO LÍBANO
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Fonte: O Globo, 29/07/2006, O Mundo, p. 38

Condoleezza volta hoje ao Oriente Médio. ONU pede trégua humanitária de 72 horas

BEIRUTE e WASHINGTON

Após o fracasso da conferência de paz em Roma na quarta-feira, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha manifestaram apoio à adoção de uma resolução da ONU que estabeleça um cessar-fogo e ao envio de uma força multinacional ao sul do Líbano. A posição conjunta foi anunciada pelo presidente George W. Bush e pelo premier Tony Blair no mesmo dia em que a ONU decidiu retirar 50 observadores da fronteira israelense-libanesa e pediu uma trégua humanitária de 72 horas.

Para tentar chegar a um acordo, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, retorna hoje ao Oriente Médio, onde já esteve no início da semana. Os EUA, apesar de pressões e críticas da comunidade internacional, têm resistido a pedir um cessar-fogo imediato, insistindo em que qualquer solução deve ser permanente e envolver o desarmamento do Hezbollah e a libertação dos dois militares israelenses seqüestrados pelos militantes xiitas, como exige Israel. Não ficou claro se o Hezbollah será incluído nas negociações, uma vez que Washington o considera um grupo terrorista e Bush o citou como ¿a raiz do problema¿.

¿ As instruções dela são trabalhar com Israel e o Líbano para chegar a uma resolução aceitável do Conselho de Segurança da ONU que possamos pôr na mesa na próxima semana ¿ disse Bush na Casa Branca, referindo-se à missão de Condoleezza. ¿ Queremos um Líbano livre de milícias e de interferência estrangeira e um Líbano que governe seu próprio destino.

Bush pediu desculpas a Blair pelo fato de aeronaves americanas levando bombas para Israel não terem ¿seguido os procedimentos normais¿ ao fazerem escala num aeroporto da Escócia, gerando protesto de Londres.

Blair faz ameaça ao Hezbollah

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá na segunda-feira para discutir a situação. O Hezbollah, no entanto, já deixou claro que só libertará os militares israelenses em troca de prisioneiros libaneses mantidos em cárceres de Israel. O grupo também parece pouco disposto a desarmar-se. Blair fez ameaças ao Hezbollah se o grupo não se dispuser a colaborar com um cessar-fogo decidido pelo Conselho de Segurança e aprovado pelos governos de Israel e do Líbano.

¿ Terão de enfrentar o fato de que será necessário empreender ação contra eles ¿ advertiu o premier.

Mas numa reação a declarações de um ministro israelense de que o fracasso da conferência de paz em Roma equivalia a dar sinal verde a Israel para continuar os ataques no Líbano, um porta-voz do Departamento de Estado americano, Adam Ereli, tachou de ¿ultrajante¿ tal interpretação dos fatos.

Adiantando-se à adoção de uma resolução, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, convidou países interessados em participar de uma força de paz a enviarem representantes a uma reunião da segunda-feira em Nova York para começar o planejamento.

¿ Chegou a hora de nos orientarmos de verdade para a ação e buscarmos medidas concretas que possam ser tomadas para ajudar os civis apanhados no meio da luta.

Por sua vez, o coordenador da ajuda humanitária da ONU, Jan Egeland, pediu que Israel e o Hezbollah declarem um cessar-fogo por 72 horas para passagem de ajuda humanitária e evacuação de civis do sul do Líbano. Em outra medida, a ONU anunciou a retirada dos 50 observadores desarmados que mantém em postos na fronteira, dias após quatro membros do grupo terem sido mortos num bombardeio israelense.