Título: GARCÍA ASSUME, PROMETE GOVERNO AUSTERO E COMBATE À DESIGUALDADE
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 29/07/2006, O Mundo, p. 42

Novo presidente do Peru anuncia investimentos em programas sociais

BUENOS AIRES. Dezesseis anos depois de ter entregado o poder ao ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), Alan García assumiu ontem, pela segunda vez, a Presidência de seu país. Após enfrentar várias denúncias de corrupção na década de 90, rumar para o exílio na Colômbia e em Paris e ser derrotado pelo ex-presidente Alejandro Toledo nas eleições de 2001, García recuperou o poder perdido e prometeu liderar um governo austero, que terá como principal objetivo o combate à pobreza, que hoje afeta 50% dos peruanos.

¿ Corremos o risco de caos e desordem, a maioria votou contra o Estado, contra frivolidade e o escândalo ¿ afirmou o novo presidente do Peru, que ontem anunciou um pacote de medidas de ajuste.

Novo governo reduziu gastos com o funcionalismo

O novo governo decidiu reduzir em quase um terço os salários do presidente e de 17 mil funcionários eleitos, fechar seis embaixadas, reduzir em 50% o número de adidos militares e civis no exterior e cortar em 25% o salário dos diplomatas. Com os recursos economizados, García prometeu financiar obras de infra-estrutura e programas sociais. O novo presidente peruano disse que liderará um governo de ¿austeridade e modéstia¿, que estará a serviço dos 13 milhões de peruanos que vivem em condições de pobreza.

Além de melhorar os indicadores sociais, García pretende transformar o Peru num dos países mais desenvolvidos do continente. Durante toda a campanha, ele elogiou o modelo de crescimento do Chile e questionou o fato de o Peru ser um país muito atrasado em relação ao próspero vizinho sul-americano.

¿ Trabalharei para que dentro de dez anos o Peru seja um país líder na América do Sul ¿ enfatizou García em seu discurso de posse.

O novo presidente também reiterou sua decisão de renegociar os contratos assinados com empresas que operam no setor energético, com o objetivo de reduzir tarifas de serviços públicos privatizados pagas pelos peruanos. García deixou claro que tanto ele como o partido aprenderam com os erros cometidos no passado.

¿ Mas continuamos com a motivação de servir aos mais necessitados ¿ frisou o novo presidente.

Seu antecessor pediu o apoio da população ao novo governo.

¿ Que não sejam descarregadas contra ele a ira e a inveja, nem o grito fácil, nem a campanha suja, nem a oposição destrutiva, nem a falsidade. Não façam com ele o que fizeram comigo ¿ pediu o ex-presidente Toledo, em seu discurso de despedida no Congresso Nacional.

O ex-presidente afirmou que ¿a pátria não quer mais dor, a pátria não quer mais desamor entre os peruanos¿.

¿ Onde eu estiver, continuarei colaborando com minha palavra e meu silêncio, quando for necessário ¿ disse Toledo, que deixou o governo com 47% de imagem positiva.

A posse de García foi presenciada por nove presidentes estrangeiros, entre os quais Luiz Inácio Lula da Silva e o boliviano Evo Morales, que aproveitou a visita a Lima para se reunir com o líder nacionalista Ollanta Humala, derrotado por García no segundo turno das eleições presidenciais peruanas.