Título: MÁFIA ATUOU EM 450 MUNICÍPIOS
Autor: Alan Gripp e Maria Lima
Fonte: O Globo, 31/07/2006, O País, p. 3

Vedoin diz ter gastado cerca de R$1 milhão para subornar pelo menos 77 prefeitos

Para pôr em prática o jogo de cartas marcadas nas licitações para a compra de ambulâncias, a máfia dos sanguessugas diz ter subornado pelo menos 77 prefeitos das mais de 450 cidades onde atuou. A revelação foi feita à Justiça Federal pelo chefe da quadrilha, o empresário Luiz Antônio Vedoin, que diz ter desembolsado cerca de R$1 milhão para corromper os administradores desses municípios.

Em seu depoimento, Vedoin conta que o acerto sempre começava com deputados e senadores. Caberia a eles apresentar as emendas para a compra de ambulâncias e, em grande parte dos casos, também acertar as licitações com os prefeitos. Vedoin, no entanto, dá a entender que nem sempre os prefeitos aceitavam o esquema sem cobrar comissões.

¿Os acordos eram realizados com os parlamentares¿, diz um trecho do depoimento. ¿Se os municípios não aceitassem as condições impostas pelos parlamentares, perdiam o dinheiro da emenda¿, disse Vedoin.

Só em MT, fraude em 110 cidades

A Planam vendeu ambulâncias e equipamentos hospitalares com preços superfaturados em 22 estados. Somente em Mato Grosso, onde fica a sede da Planam, a empresa de Vedoin, a fraude foi executada em 110 municípios. O esquema também foi posto em prática em larga escala em Minas Gerais (42 cidades), Rondônia (36) e Rio de Janeiro (29).

As prefeituras ajudavam a simular uma falsa concorrência com uma empresa da quadrilha concorrendo com outras duas de fachada. O esquema foi desarticulado pela Controladoria Geral da União (CGU).

Alguns prefeitos e seus representantes chegaram a receber 20% do negócio, segundo o empresário. Em Juara (MT), Vedoin disse ter pago comissão de R$72 mil pela venda de equipamentos médico-hospitalares. A emenda que liberou os recursos federais, segundo Vedoin, é de autoria do deputado Wellington Fagundes (PL-MT). O chefe da organização disse ter entregue R$100 mil de comissão nas mãos do deputado.

Houve casos em que as propinas para os prefeitos saíram dos cofres dos próprios municípios, contou Vedoin. Uma empresa da quadrilha recebia cheques das prefeituras referentes à contrapartida dos municípios, endossava e devolvia ao prefeito.

Na maior parte dos casos, segundo Vedoin, foi paga propina aos parlamentares que apresentaram as emendas. A comissão era, em geral, de 10% do valor da emenda. O empresário contou que, em pelo menos 40 casos, os parlamentares participaram diretamente do acerto com os prefeitos.

Quadrilha tinha a senha de prefeituras

Segundo Vedoin, muitas vezes os projetos e os convênios com os municípios eram assinados na presença de parlamentares, ocasiões em que eles aproveitavam para acertar os detalhes da licitação.

A partir de 2004, o sistema do Ministério da Saúde foi informatizado, permitindo a montagem do pré-projeto e do projeto para a liberação dos recursos pela internet, por meio de uma senha fornecida pela pasta às entidades beneficiadas. A partir daí, a própria quadrilha passou a elaborar os convênios. Para isso, segundo Vedoin, as senhas dos municípios eram repassadas pelos gabinetes dos parlamentares ou pelas próprias prefeituras.