Título: SATURNINO BRAGA DÁ ADEUS AOS PALANQUES
Autor: Bernardo Mello Franco
Fonte: O Globo, 31/07/2006, O País, p. 4

Decisão foi precipitada pelo apoio do PT à candidatura de Jandira ao Senado

O senador Roberto Saturnino Braga (PT-RJ) já teve o fim da carreira decretado duas vezes. Por adversários. Em 1966, após assistir à cassação dos quatro colegas do antigo PSB na Câmara, teve a candidatura à reeleição impugnada pelo Serviço Nacional de Informações ¿ que parecia ver no jovem deputado um perigoso inimigo da ditadura. Vinte e dois anos depois, deixou a prefeitura do Rio rompido com o ex-governador Leonel Brizola e sob o estigma de ter levado o município à falência. Sempre que esteve diante do abismo, Saturnino surpreendeu ao ressurgir no cenário político. Desta vez, é ele quem anuncia o adeus aos palanques.

Aos 74 anos, o engenheiro aposentado pelo BNDES foi impedido de disputar a reeleição pelo PT, que apoiará a comunista Jandira Feghali. O acordo precipitou a decisão de dar ponto final à carreira política ¿ com a mesma discrição que caracterizou a terceira passagem pelo Senado.

¿ Insistiram para que eu voltasse à Câmara, mas lá é lugar de gente jovem, não tenho mais pique. É melhor sair numa boa do que derrotado ¿ diz o petista, que venceu um câncer linfático há dois anos.

Saturnino admite que, se o PT escolhesse candidato próprio ao Senado, provavelmente perderia a vaga para a ex-governadora Benedita da Silva. Temeu repetir a despedida melancólica de Brizola, morto em 2004 após quatro derrotas consecutivas nas urnas.

A relação de amor e ódio com o líder trabalhista deixou uma mancha no último mandato de Saturnino. Eleito em 1998 com apoio de Brizola, fez uma polêmica carta em que prometia dividir o mandato com o suplente, o pedetista Carlos Lupi. Ao negar o compromisso, dizendo ter sido coagido a assinar o documento, provocou a ira de Brizola, que pediu sua cassação à Comissão de Ética do Senado. O petista foi absolvido, mas não teve tempo de reatar os laços com Brizola.

¿ A carta perdeu valor quando o PDT migrou para a oposição, mas cometi uma falha ética grave por não ter comunicado o acordo aos eleitores ¿ reconhece ele, que agora planeja dar aulas na Central Única de Favelas (Cufa), dirigida pelo rapper MV Bill e pelo ativista Celso Athayde.