Título: UM CONVITE AO LÍBANO
Autor: TZIPORA RIMON
Fonte: O Globo, 31/07/2006, Opinião, p. 7

No princípio eram os kibutzim, mais tarde Israel desenvolveu uma agricultura moderna, uma sofisticada ciência e alta tecnologia que ganharam reconhecimento mundial. Faltava a paz com seus vizinhos. Voltada justamente para esse objetivo, a atual geração de líderes do país demonstrou-se pronta e comprovou sua disposição para a paz, ao efetuar a retirada de territórios.

Israel deixou o Sul do Líbano em 2000, e o que temos hoje? No Norte de Israel os projetos de pesquisa e desenvolvimento foram suspensos, a produção industrial foi interrompida e os agricultores não trabalham mais nos campos. Os cidadãos dos kibutzim, das cidades e de outras localidades permanecem em abrigos sob a ameaça de mísseis ¿ 2.200 até hoje ¿ lançados pelos terroristas do Hezbollah.

A organização terrorista Hezbollah, representante dos interesses iranianos e comandada pelo Irã e pela Síria, acumulou durante os seis últimos anos um enorme arsenal de mísseis no Sul do Líbano. Entre suas principais características está a triste estratégia de operar e residir em meio à população civil, ocupando cidades e aldeias e usando cidadãos como escudos humanos.

O governo do Líbano, ao invés de combater essa ¿força de ocupação¿, convidou-a a integrar o governo e optou pelo conflito com Israel, concedendo ao Hezbollah liberdade para atuar a partir do Sul do país. Atentados provenientes dessa área já mataram cidadãos israelenses, feriram outros e causaram danos a prédios e propriedades. Entretanto, a brutalidade do Hezbollah não é inteiramente retratada pela mídia mundial.

Israel está exercendo, através de suas forças de defesa, seu direito e dever de legítima defesa contra o Hezbollah. De acordo com o Direito Internacional, a proporção de um ato é avaliada segundo a ameaça e não segundo o incidente. A reação ao seqüestro de dois soldados israelenses pelo Hezbollah, no dia 12 de julho, em território de Israel, não deve ser um contra-seqüestro de dois integrantes do Hezbollah, mas uma operação visando a afastar a ameaça de lançamento de mísseis katyusha sobre cidadãos israelenses, incluindo aqueles de origem brasileira.

Israel deixou o Sul do Líbano para não mais retornar. As forças israelenses atuam na área tendo como alvo os depósitos de armas ¿ especialmente de mísseis ¿ e os comandos do Hezbollah, destruir a infra-estrutura terrorista.

Como podemos terminar com a crise em nossa região? O cessar-fogo temporário e artificial não resolverá, ao contrário, ocasionará uma ilusória trégua que criará um vácuo que o Hezbollah buscará preencher com o terrorismo contra Israel. O cessar-fogo precisa ser parte de um arranjo político abrangente, que deve estabelecer uma situação mais segura do que a anterior ao conflito.

A declaração do G-8, de 16 de julho, fornece uma base para que se alcance uma paz sustentável. Tal declaração reconhece que o Hezbollah, em seu ato terrorista espontâneo e transfronteiriço, tem toda a responsabilidade pela crise. Também reconhece claramente que se trata de uma ameaça regional, envolvendo uma coligação de terroristas e Estados patrocinadores, incluindo Hezbollah, Hamas, Síria e Irã. Também concorda que os componentes básicos de uma solução devem incluir a incondicional libertação dos soldados israelenses seqüestrados, o desarmamento do Hezbollah, o exercício da soberania do governo libanês em todo seu território e o posicionamento do Exército libanês no Sul do país e ao longo da fronteira, de acordo com a implementação da Resolução 1.559 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Assim, estaria assegurado o futuro do Líbano, a estabilidade da região e a segurança de Israel.

Este é o momento da verdade e da oportunidade para o governo libanês. Israel está pronto para embarcar com o Líbano em uma trajetória rumo ao desenvolvimento e à cooperação, em substituição às barreiras de mísseis, e pelo estabelecimento de relações pacíficas e amigáveis entre os dois países, cujos povos não correrão mais o risco de se tornarem reféns do Hezbollah.

TZIPORA RIMON é embaixadora de Israel no Brasil.