Título: CIDADE-SÍMBOLO DE MASSACRES
Autor:
Fonte: O Globo, 31/07/2006, O Mundo, p. 16
Qana foi atacada em 1996
BEIRUTE. A cidade de Qana já havia sido alvo de um massacre em 1996, num ataque de Israel a uma base da ONU que abrigava civis libaneses. Desde essa época, Qana se tornou para os libaneses um nome que lembra matança e tristeza.
O choque internacional com as mortes de 1996 ¿ foram mais de cem, além de centenas de feridos ¿ culminou com a suspensão da última operação militar ostensiva de Israel contra o Hezbollah, intitulada Vinhas da Ira.
Até hoje, Israel afirma que o massacre de 1996 foi um acidente. Suas forças tentariam atingir uma unidade militar do Hezbollah, próxima de Qana, que lançava foguetes. Naquela época e também agora, Israel continua a acusar o Hezbollah de usar a população civil como escudos quando lançam seus foguedes. Uma investigação da ONU, divulgada em maio de 1996, porém, concluiu que as mortes de civis em Qana não foram causadas por acidente. No seu comunicado, a ONU denunciou ataques repetidos de bombas lançadas sobre a pequena base, provocando ferimentos na população. A ONU notificou também a presença de helicópteros israelenses que testemunhavam o massacre.
Agora Qana voltou ao noticiário sangrento da guerra com o massacre de crianças. Houve também o bombardeio de duas ambulâncias da Cruz Vermelha libanesa e a morte de uma jovem fotojornalista, Layal Nejib, também bombardeada em seu carro. Além de vizinha da fronteira com Israel, a cidade fica bem próxima da confluência de cinco estradas estratégicas que levam a Tiro. Qana e seus arredores formam uma área intensamente pró--Hezbollah e por isso, segundo Israel, seria seguidamente usada pelo grupo para lançar foguetes.
Para os libaneses, Qana é também o local das Bodas de Canaã, onde Jesus Cristo realizou seu primeiro milagre, transformando água em vinho durante um casamento. Para Israel, porém, o local do milagre seria uma cidade homônima na Galiléia, próxima a Nazaré. Pesquisas de arqueólogos e estudiosos de textos bíblicos apontam que a tese israelense seria a correta.