Título: METADE DA BANCADA EVANGÉLICA ENVOLVIDA
Autor: Isabel Braga e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 01/08/2006, O País, p. 3

Senador e 28 deputados, inclusive o líder do grupo, recebiam dinheiro de Vedoin

BRASÍLIA. Quase metade da bancada evangélica do Congresso está envolvida com a máfia das ambulância. Dos 64 integrantes da Frente Parlamentar Evangélica, 29 deles, que representam 45% do grupo, tiveram seus nomes citados e estão sendo investigados. São 28 deputados e um senador. Os evangélicos representam 32% dos 90 sanguessugas citados pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam.

Até mesmo o líder da bancada evangélica, o deputado Adelor Vieira (PMDB-SC), está envolvido. Vedoin disse em seu depoimento à Justiça ter pagado R$40 mil a ele, sendo R$26 mil em espécie.

Entre os evangélicos citados na CPI dos Sanguessugas, 18 são dos três principais partidos que estiveram envolvidos no esquema do mensalão: PL, sete deputados e um senador; PP, cinco deputados; e PTB, cinco deputados. Os outros evangélicos são do PMDB (três), do PSB (dois), do PRB (dois) e do PSC (um).

Os parlamentares da bancada evangélica recebiam cheques e dinheiro vivo de Vedoin, além de carros e até ônibus. Wanderval Santos (PL-SP), que também foi envolvido no mensalão, segundo Vedoin, recebeu recursos para pagar a prestação de um BMW. Lino Rossi (PP-MT), um dos principais elos de Vedoin no Congresso, segundo o empresário, além de dinheiro ganhou um Fiat Ducato, usado também pelo senador Magno Malta (PL-ES), outro evangélico implicado com o esquema.

Foram 13 os deputados evangélicos que receberam a comissão em dinheiro vivo, variando de R$10 mil a mais de R$80 mil. Isaías Silvestre (PSB-MG) teria recebido R$82 mil, segundo Vedoin. O dono da Planam, em seu depoimento, contou que pagava comissões que variavam de 10% a 20% sobre o valor das emendas dos parlamentares. O esquema envolvia ex-deputados e prefeitos.

Evangélico lamenta atitude de colegas de bancada

Integrante da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), que não se envolveu no caso, lamentou que parlamentares que se dizem evangélicos tenham participado de um esquema de corrupção. Pinheiro acredita que o fato de parlamentares apontados como cabeças do esquema ¿ caso de Lino Rossi ¿ serem evangélicos facilitou a abordagem à bancada:

¿ A tendência era atrair as pessoas mais próximas deles. Claro que isso também não justifica. Por que nunca me procuraram? Sabiam que jamais eu entraria numa dessa.

Os deputados evangélicos fazem culto toda quarta-feira mas apenas metade da bancada, cerca de 30, participa. Pinheiro comentou essa relação da política com a religião:

¿ Muitos desses políticos encostam na igreja e a transformam num curral eleitoral, o que é inadmissível. Eles não mancham apenas o Evangelho, mas toda a igreja, que é quem vai pagar pelos seus atos.

Os 29 parlamentares evangélicos investigados pela CPI dos Sanguessugas são: Adelor Vieira (PMDB-SC), Agnaldo Muniz (PP-RO), Almeida de Jesus (PL-CE), Almir Moura (PFL-RJ), Cabo Júlio (PMDB-MG), Carlos Nader (PL-RJ), Edna Macedo (PTB-SP), Gilberto Nascimento (PMDB-SP), Heleno Silva (PL-SE), Isaías Silvestre (PSB-MG), Jefferson Campos (PTB-SP), João Batista (PP-SP), João Mendes de Jesus (PSB-RJ), Jorge Pinheiro (PL-DF), José Divino (PRB-RJ), Josué Bengston (PTB-PA), Lino Rossi (PP-MT), Magno Malta (PL-ES), Marcos Abramo (PP-SP), Marcos de Jesus (PFL-PE), Neuton Lima (PTB-SP), Nilton Capixaba (PTB-RO), Pastor Amarildo (PSC-TO), Paulo Gouvêa (PL-RS), Raimundo Santos (PL-PA), Reginaldo Germano (PP-BA), Vieira Reis (PRB-RJ), Wanderval Santos (PL-SP) e Zelinda Novaes (PFL-BA).