Título: ESTRATÉGIA MILITAR ISRAELENSE NA BERLINDA
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Fonte: O Globo, 01/08/2006, O Mundo, p. 27

Especialistas criticam falta de progressos e perspectiva para o fim da guerra

TEL AVIV. Três semanas após o início dos confrontos, foguetes Katiusha continuam aterrissando em Israel, o Hezbollah mantém seu discurso desafiador e o Exército israelense dá prosseguimento a uma operação militar que provocou mortes de ambos os lados sem qualquer resultado concreto. O fim do duvidoso cessar-fogo de 48 horas e as declarações do primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, de que a missão ainda não terminou, deixam à mostra uma divergência clara entre discursos diplomáticos e a realidade no campo de batalha, colocando o poderoso Exército de Israel numa posição inusitada: o de uma máquina de guerra desgovernada.

Nem mesmo o apoio do público, imerso numa inevitável onda de nacionalismo, é capaz de esconder a inquietação pela falta de progressos ou mesmo perspectivas para o fim da guerra. Em editorial publicado ontem, o jornal ¿Jerusalém Post¿ criticou a administração Olmert pela incompreensível estratégia militar que até agora se mostrou incapaz de impedir os ataques de foguetes do Hezbollah contra Israel. Mesmo diante do fracasso, segundo o jornal, talvez seja muito tarde para uma invasão por terra do sul do Líbano.

Para o general Amnon Lipkin-Shachak, ex-chefe do Estado-Maior do Exército, a incerteza sobre os objetivos da ação no sul do Líbano acontecem por tratar-se de uma guerra diferente. Segundo ele, Israel ainda não usou nem 30% de sua capacidade por não estar em guerra contra um país, mas contra um grupo terrorista. Shachak acredita que batalhas sangrentas como as vistas nos povoados de Maroun-a-Ras e Bint Jbeil não têm o objetivo de conquistar território, apenas de expulsar os membros do grupo fundamentalista islâmico Hezbollah:

¿ É difícil ver resultados porque não entramos no Líbano com o intuito de ganhar ou perder, mas de acabar com o poder de fogo do Hezbollah. Os focos de combate são móveis, pois os terroristas mudam de lugar. Quando há informações de inteligência sobre uma base de ameaça contra o país, o Exército entra, procura, faz o trabalho e retorna. Por isso, existe a sensação de que não há progressos.

Falta de experiência de Olmert é apontada como problema

O jornal ¿Haaretz¿ também não poupou críticas à atuação do Exército e alegou que o fracasso em campo será refletido na diplomacia. Num editorial pessimista, o jornal da tradicional esquerda israelense surpreendeu e cobrou mais empenho das forças militares, pois a falta de conquistas em campo não permite que a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, negocie uma solução para o conflito.

Com a diplomacia atropelada pela manutenção das agressões mútuas, analistas questionam se a guerra obscura é fruto de determinação política ou de um planejamento infeliz. Alguns apontam a falta de experiência militar do premier Olmert do ministro da Defesa, Amir Peretz. De acordo com o pesquisador Yiftach Shapir, do Centro Yaffe de Estudos Estratégicos, eleger um único culpado, porém, seria mais um erro. Ele acredita que o Exército esteja agindo sob fortes restrições políticas e que se ainda não houve uma operação por terra maior é porque Israel ainda não se recuperou da trágica experiência durante a guerra contra o Líbano, em 1982, quando centenas de homens morreram em combate na primeira semana.