Título: ISRAEL EXPANDE ATAQUES POR TERRA
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Fonte: O Globo, 01/08/2006, O Mundo, p. 27

Bombardeios diminuem, mas governo descarta cessar-fogo e convoca 15 mil reservistas

BEIRUTE

Um dia após um ataque que atingiu um prédio residencial, matando cerca de 60 civis libaneses, Israel decidiu ampliar a ofensiva por terra contra o Hezbollah e descartou qualquer cessar-fogo nos próximos dias. A suspensão dos ataques aéreos por 48 horas, anunciada na véspera pelos EUA, não foi total, com os bombardeios apoiando forças em terra. Segundo fontes, os ataques aéreos serão retomados com força máxima ao fim do prazo.

A suspensão parcial dos ataques aéreos foi usada para o envio de ajuda humanitária e permitiu que milhares de pessoas fugissem da zona de conflito, deixando alguns vilarejos e cidades praticamente desertos.

Mas à noite, um funcionário do governo informou que o Gabinete de segurança dera sinal verde para ampliar a ofensiva terrestre, convocando mais 15 mil reservistas. O objetivo é avançar no território libanês a pelo menos 20 quilômetros da fronteira e empurrar a guerrilha para a região do Rio Litani. O Exército lançou ontem novas incursões ao território libanês, com ferozes combates sendo travados com o Hezbolalh em Aita al-Shaab, Taibe e Kfar Kila.

¿ Os combates continuam. Não há um cessar-fogo e não haverá nos próximos dias ¿ afirmara mais cedo o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert. ¿ Encerraremos a guerra quando a ameaça que paira sobre nossas cabeças tiver sido eliminada, quando os soldados seqüestrados retornarem e pudermos viver em segurança.

A afirmação de Olmert contrasta com a declaração da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que disse ontem que um cessar-fogo poderia ser obtido esta semana. Mas em conversa por telefone com Tony Blair, o premier israelense afirmou que um cessar-fogo pode ser decretado assim que uma força internacional ocupar o sul do Líbano e a fronteira entre o país e a Síria.

Síria põe militares de prontidão

Grande parte dos bombardeios cessou a partir de 2h de ontem (hora local), para que seja investigado porque os ataques acertaram um prédio residencial em Qana, matando 56 pessoas, entre elas 37 crianças.

Ontem, Qana amanheceu deserta. De cidades do sul do Líbano partiam carros cheios, com centenas de famílias fugindo para Saida e Beirute. Em Saida, prédios públicos e centros comerciais foram abertos para receber refugiados. Um comboio da Cruz Vermelha chegou a Bint Jebeil, onde cerca de 200 pessoas, a maioria idosos, mulheres e crianças, aguardavam ajuda.

¿ Não vi o sol por 20 dias ¿ disse Mehdi al-Halim, de 73 anos.

A maioria não tinha comida e bebia água suja. Dois deles estavam tão debilitados que morreram quando eram removidos.

¿ Não tínhamos comida nem água. Só uma bala para cada um todos os dias, um caramelo. O que vocês comem em um dia foi o que comemos em 20 ¿ contou Nabil Harkus.

A trégua parcial permitiu ainda a remoção de corpos, como na região de Tiro, onde foram retirados 49 dos escombros. Mas os bombardeios não cessaram de todo e a ONU reclamava que continuava difícil o envio de ajuda humanitária a determinadas zonas.

Três caminhões foram atingidos em estradas perto da fronteira com a Síria, país acusado de apoiar o Hezbollah. Um deles, segundo os libaneses, levava ajuda humanitária, mas Israel disse se tratar de armas. O presidente da Síria, Bashar al-Assad, pediu que seu Exército esteja preparado para fazer frente ¿aos desafios regionais¿.