Título: CORREGEDORIA COMEÇA A INVESTIGAR 3 SENADORES
Autor: Maria Lima e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 02/08/2006, O País, p. 5

Magno Malta (PL-ES), Ney Suassuna (PMDB-PB) e Serys Slhessarenko (PT-MT) negam relação com sanguessugas

BRASÍLIA. A Corregedoria do Senado começa a investigar hoje oficialmente os três senadores acusados de participar da máfia das ambulâncias. O corregedor Romeu Tuma (PFL-SP) informou que abrirá hoje a investigação para apurar as informações de que os senadores Magno Malta (PL-ES), Ney Suassuna (PMDB-PB) e Serys Slhessarenko (PT-MT) receberam propina da Planam para apresentar ou negociar emendas para a compra de ambulâncias.

O empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, no depoimento à Justiça Federal, disse ter pagado R$35 mil de propina para o genro de Serys, Paulo Roberto, a seu pedido. Em relação a Suassuna, Vedoin disse ter pago R$200 mil a seu ex-assessor Marcelo Carvalho, responsável pela negociação de suas emendas.

Magno Malta teria recebido como antecipação um carro Fiat Ducato para apresentação de emendas para compra de ambulâncias. Mas Vedoin diz que Malta furou o acordo: recebeu o pagamento mas não apresentou as emendas acordadas. Tuma disse que começará a investigação ouvindo Marcelo Carvalho e o genro de Serys. Também ouvirá o deputado licenciado Lino Rossi, para ver se procede a versão de Malta, de que pegou o carro da Planam emprestado do parlamentar matogrossense para transportar sua banda de gospel Tempero do Mundo. Por último serão ouvidos os acusados.

¿ Se forem comprovados indícios de crime, os nomes serão encaminhados ao Conselho de Ética para abertura de processo de cassação do mandato ¿ disse Tuma.

O corregedor do Senado descartou investigar também os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO). No depoimento, Vedoin faz menção a um empresário do Amapá que cuidaria da negociação das emendas dos parlamentares do estado, inclusive Sarney. Mas não faz referência a acordo ou negociação com os senadores citados. Ontem mesmo, Tuma procurou Sarney e, depois da conversa, disse estar convencido de que não há nenhum indício de envolvimento do ex-presidente da República com o esquema dos sanguessugas.

¿ Eu já conversei com o senador Sarney hoje e não há nenhum indício de crime. Era um funcionário do Amapá que estaria negociando emendas do estado. Falei com Sarney e não há nenhum indicativo de crime ou maracutaia ¿ disse Tuma.

Tão logo Tuma anunciou a abertura oficial da investigação, os três senadores foram à tribuna se defender. Culparam a imprensa pela situação que enfrentam. Embora admita ter usado o carro da Planam por um ano, mas certo de que não apresentou as emendas, Magno Malta num longo e emocionado discurso prometeu renunciar ao mandato se alguma emenda sua destinada á máfia for descoberta.

¿ Se houver alguma emenda minha para essa corja eu renuncio. Mas não para voltar, renuncio mesmo, para ser julgado como cidadão comum ¿ disse Malta, que atacou a imprensa:

¿ Não sujei minhas mãos no chiqueiro da corrupção. Por causa disso (do noticiário) virei o lixo da política, o resto do resto.

Malta foi defendido por vários senadores, inclusive por Wellington Salgado (PMDB-MG), integrante da CPI dos Sanguessugas. Além de defender Malta, Salgado ainda reclamou da CPI da qual faz parte:

¿ Essa CPI só teve uma reunião conduzida por uma espécie de quarteto fantástico. Eu fico sabendo das coisas pela TV.

Aproveitando o discurso do companheiro de infortúnio, Suassuna pediu um aparte para também reclamar do noticiário:

¿ Não tenho nada a esconder. Fico assistindo como nossa mídia faz sensacionalismo dos fatos.

Enquanto Tuma anunciava a abertura das investigações, a senadora Serys passou ao seu lado, parou e disse que queria saber do seu destino. Em nota divulgada, disse confiar que será inocentada com a análise de sua defesa apresentada à CPI.

¿Confio que a CPI saberá separar o joio do trigo. Meu nome foi citado, é justo que tenha que me explicar. Minha maior expectativa é que esse esquema de fraudes seja desbaratado e se defina formas de moralizar a execução do Orçamento, daqui pra frente¿, afirmou a senadora. Tuma disse que nas diligências deve pedir a quebra do sigilo bancário do genro, acusado de ter recebido o dinheiro em nome de Serys.