Título: Chuva de recordes na balança
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 02/08/2006, Economia, p. 21

Alta de preços faz exportação do país atingir US$74,5 bi no ano e saldo comercial, US$25 bi

Reflexo do aquecimento da demanda externa, os preços internacionais em alta estão puxando a balança comercial brasileira. De janeiro a julho deste ano, o comércio exterior registrou recordes históricos em exportações (US$74,522 bilhões), importações (US$49,352 bilhões) e superávit acumulado, que atingiu US$25,170 bilhões. As cotações dos produtos exportados pelo Brasil são tão importantes para o comércio exterior brasileiro que, se os valores estivessem no patamar de 2005, haveria uma queda de cerca de US$5,5 bilhões nas vendas externas do primeiro semestre, tornando-as inferiores às do ano passado.

¿ Os preços internacionais estão dando uma contribuição mais forte do que a quantidade exportada, não só para commodities (produtos cotados em bolsas), mas também aos manufaturados ¿ explicou Fernando Ribeiro, economista da Fundação de Comércio Exterior (Funcex) que fez os cálculos.

Ribeiro destacou que, nos seis primeiros meses do ano, o volume exportado aumentou 2%, enquanto os preços dos bens vendidos no exterior subiram mais de cinco vezes este percentual: 11,3%. Mas ele acredita que, até o fim do ano, a quantidade exportada tenha um crescimento próximo a 5% e os preços aumentem em torno de 10%.

A situação se repetiu em julho. Segundo técnicos do Ministério do Desenvolvimento, o minério de ferro teve alta de 11,1% em volume e de 17,9% em preço; o álcool subiu 3,7% em volume e 55% em valor; e o petróleo aumentou 20% em quantidade e 40% em preço.

Um dos motivos para o baixo dinamismo de alguns setores exportadores é a forte valorização do real frente ao dólar, que se arrasta há mais de 12 meses. Esta conjuntura reduz a competitividade de alguns produtos brasileiros no exterior. Além disso, diminui a rentabilidade de companhias e produtores, o que pode desestimular o investimento e a aposta nas vendas internacionais.

¿ O bom desempenho das exportações se dá não apenas por causa dos preços, mas também pela quantidade exportada, embora em um patamar menor ¿ afirmou o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat.

Ele divulgou os números da balança comercial de julho, que também foram recordes. As exportações totalizaram US$13,622 bilhões, e as importações, US$7,984 bilhões, com saldo de US$5,638 bilhões. Meziat observou que esses dados podem estar inflados, tendo em vista que, dois meses antes, os funcionários da Receita Federal estavam em greve.

¿ A melhor maneira é analisar o ano, e não apenas o mês de julho. Sem a greve da Receita, provavelmente continuaríamos com números recordes, mas os valores talvez não fossem tão expressivos ¿ disse Meziat.

Lula: `Até eu virei mascate¿

Mesmo com esta ponderação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o resultado, que, para ele, comprova a agressividade da política comercial brasileira:

¿ Até eu virei mascate. Todas as vezes que viajo, eu faço questão de divulgar as coisas do Brasil.

Nos últimos 12 meses, as exportações do país chegaram ao nível recorde de US$128,091 bilhões ¿ saldo comercial de US$45,228 bilhões.

Mantendo a tendência do ano, as importações tiveram um acréscimo de 23,1% e as exportações, de 15,1%. Embora a previsão do governo seja de continuidade desse cenário ao longo dos próximos meses, Meziat considera que, a partir de agora, as exportações estão consolidadas em outro patamar, acima de US$10 bilhões, o que permitirá o cumprimento da meta de US$132 bilhões em receita exportada este ano, com médias diárias de cerca de US$552 milhões.

De janeiro a julho deste ano, as três categorias de produtos ¿ manufaturados, básicos e semimanufaturados ¿ apresentaram os maiores valores da história do comércio exterior brasileiro. No primeiro grupo, com receita exportada de US$40,8 bilhões, os maiores destaques foram óxidos e hidróxidos de alumínio (107,6% sobre o mesmo período de 2005), óleos combustíveis (99%), gasolina (33,5%) e máquinas e aparelhos para terraplanagem (29,7%).

As vendas de básicos somaram US$21,9 bilhões, graças ao petróleo (70,1%), ao algodão em bruto (39,4%), ao minério de ferro (31,1%) e à soja (23,5%). Entre os semimanufaturados, com receita de US$10,2 bilhões, destacaram-se alumínio em bruto (55,2%), açúcar em bruto (48,7%), couros e peles (29,7%) e celulose (24,5%).

Mais de mil firmas deixam de exportar

Nas importações, também houve crescimento em todas as categorias de produtos. As compras de bens de consumo aumentaram 39,1%. A alta para bens de capital foi de 26,2%, e para matérias-primas, 15,2%. Em bens de consumo, destacaram-se automóveis, máquinas e aparelhos de uso doméstico, móveis, vestuário, farmacêuticos, bebidas e tabaco.

Apesar do dinamismo da balança comercial, 1.153 empresas deixaram o universo de exportadores no primeiro semestre de 2006: foram 13.786 firmas, contra 14.942 no mesmo período de 2005. Parte saiu por causa da valorização do real frente ao dólar, que fez com que os exportadores perdessem rentabilidade em reais. Outras são empresas novas, sem tradição exportadora, cujas vendas ao exterior são esporádicas.

¿ Ainda estamos levantando as razões para essa queda, mas até agora só ouvimos em torno de 150 empresas ¿ disse Meziat.

MANTEGA AMEAÇA CONTER ALTA DE PREÇOS E DIZ QUE AÇÕES NO CÂMBIO CONTINUAM, na página 22