Título: Mantega ameaça conter alta de preços e diz que ações no câmbio continuam
Autor: Lino Rodrigues
Fonte: O Globo, 02/08/2006, Economia, p. 22

Governo vai incentivar importação se houver `abuso¿ por parte de empresas

SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, rebateu ontem as críticas ao pacote cambial, afirmando que o governo vai dar continuidade aos esforços no sentido de atenuar a valorização do real em relação ao dólar. Mantega também aproveitou para alertar os empresários que, de acordo com uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), pretendem pegar carona na melhora da demanda interna para recompor margens de lucro e aumentar preços:

¿ Se houver abuso de preços, cartelização ou qualquer tipo de reajuste abusivo, não hesitaremos em reduzir alíquotas de importação, como fizemos, recentemente, com o aço ¿ disse o ministro, após participar do 3º Fórum de Economia, promovido pela FGV em São Paulo.

País estaria `fadado a ter uma moeda valorizada¿

Apesar dos esforços do governo para conter a queda do dólar, Mantega admitiu que será muito difícil o Brasil voltar a ter cotações entre R$2,90 e R$3. De janeiro a junho, a cotação do dólar caiu pouco mais de 6% frente ao real. A melhora da economia brasileira, que vem atraindo cada vez mais investidores, o forte superávit na balança comercial e os juros altos, segundo o ministro, são fatores que levam necessariamente a uma valorização da moeda nacional.

¿ Não vamos voltar ao dólar de R$3. Temos de nos acostumar com patamares menores ¿ disse o ministro, acrescentando que o país estaria ¿fadado a ter uma moeda valorizada¿.

De acordo com Mantega, o governo tem agido da mesma maneira que os outros países emergentes vêm fazendo para impedir uma deterioração maior do câmbio: comprando reservas, realizando leilões no mercado e facilitando a criação de mecanismos para o exportador manter recursos em dólar fora do país, como as recentes medidas cambiais.

¿ O governo continuará a fazer esforços para não permitir uma deterioração (do câmbio). O governo está atuando, está comprando reservas e fazendo leilões (no mercado). Se o governo não atuasse, o dólar estaria abaixo de R$2 ¿ disse o ministro, lembrando que a valorização cambial já é quase uma questão estrutural e, por isso, não pretende fazer novos ajustes ao pacote cambial.

Mantega nega que age como cabo eleitoral de Lula

Diante de uma platéia de economistas, professores e ex-ministros, Mantega desfiou um rosário de números positivos (que ele chamou de novo ciclo de desenvolvimento) e garantiu que o Brasil terá este ano, pela oitava vez consecutiva, um superávit primário dentro da meta de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto das riquezas produzidas no país).

Os resultados da economia, que devem garantir um aumento do PIB entre 4% e 4,5% no ano, fizeram com que ele apostasse com o ex-ministro Bresser Pereira uma caixa de vinho ¿importado do Mercosul¿ (¿para aproveitar o dólar favorável¿) que o governo vai atingir com folga a meta de superávit para este ano.

O otimismo do ministro e suas participações mais constantes em seminários e palestras têm causado protestos de candidatos da oposição, que já consideram Mantega o maior cabo eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele discorda, e diz que procura demonstrar que o país vive uma nova política econômica:

¿ Essa situação econômica veio para ficar. Quem quer que seja o eleito irá se beneficiar com tudo o que foi plantado. O novo governo encontrará uma economia pronta para manter o crescimento sustentável.