Título: NOVO ALVO DA MÁFIA: A INCLUSÃO DIGITAL
Autor: Alan Gripp e Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 03/08/2006, O País, p. 8

Depois das ambulâncias, quadrilha encontrou nicho mais lucrativo para fraudes

BRASÍLIA. A CPI dos Sanguessugas investiga a migração do esquema de superfaturamento de ambulâncias para os programas de inclusão digital do Ministério da Ciência e Tecnologia. Em seu depoimento à Justiça Federal, o empresário Darci Vedoin, dono da Planam e responsável pela maior parte dos contatos com os parlamentares, disse que passou a orientar os deputados a destinar recursos para a área. Para os integrantes da CPI, os chefes do esquema enxergaram no programa de inclusão um nicho novo e mais lucrativo.

Emendas de R$10 milhões para os programas

A migração de emendas teria o objetivo de desviar as atenções das compras de ambulâncias, que já vinha sendo investigada pela Controladoria-Geral da União (CGU). A CPI identificou emendas feitas por pelo menos cinco parlamentares ligados ao grupo no valor de R$10 milhões para os programas, que previam a compra de ônibus com computadores ou apenas dos equipamentos eletrônicos. A comissão quer investigar os Centros de Vocação Tecnológicos, que fazem parte do programa de inclusão digital.

Os deputados Paulo Baltazar (PSB-RJ), Heleno de Lima (PSC-RJ), João Mendes de Jesus (PSB-RJ) e Josias Quintal (PSB-RJ), já investigados pela CPI no esquema das ambulâncias superfaturadas, fizeram emendas ao orçamento para destinar recursos de R$3,6 milhões a programas de inclusão digital. O que mais destinou recursos para este fim foi Baltazar, que fez duas emendas: R$1,611 milhão para o Instituto Brasileiro de Educação e Cultura (Ibrae) e R$138 mil para a prefeitura de Rio das Flores. Quintal é o autor da emenda de menor valor: R$169 mil para o Ibrae.

A CGU já encontrou irregularidades no programa de inclusão digital. Auditores descobriram compras de ônibus para o programa feitas com dinheiro vindo de convênios com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), por exemplo, em que dois ônibus equipados com computadores custaram R$697 mil, ou seja, R$348.800 cada. Pelas contas de parlamentares da CPI, é mais do que o preço pago pelo governo por três unidades de UTIs móveis.