Título: SANGUESSUGAS: TESTEMUNHA ACUSA PROCURADOR
Autor: Alan Gripp e Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 03/08/2006, O País, p. 8

Roberto Cavalcanti, de Mato Grosso, teria recebido R$1,3 milhão para repassar informações privilegiadas à máfia

BRASÍLIA. Em depoimento à Justiça Federal, o advogado Ivo Marcelo Spínola da Rosa, genro do dono da Planam, Darci Vedoin, informou que a máfia dos sanguessugas usou os serviços profissionais do procurador da República Roberto Cavalcanti, de Mato Grosso. Segundo Rosa, Cavalcanti teria dito aos chefes da quadrilha ter informações privilegiadas que facilitariam a defesa das empresas acusadas de comandar as fraudes na venda de ambulâncias.

Rosa afirmou à Justiça que se aproximou do procurador em 2003, ao saber que as empresas da máfia eram alvo de investigações. O procurador, então, confirmou que havia uma grande investigação contra as empresas da família Vedoin. Pelo que o advogado disse no depoimento, Cavalcanti mencionou a existência de uma ação civil pública no Acre e avisou que, por causa dessa ação, o Ministério Público de Mato Grosso recebera um pedido de investigação.

O procurador também informou à máfia que havia uma investigação em andamento na Receita Federal, e sugeriu aos empresários tomarem medidas urgentes para não serem presos por crime de sonegação fiscal. Além de procurador da República, Cavalcanti tem um escritório de advocacia. Ele teria dito aos empresários que não havia em Cuiabá outro escritório em condições de defendê-los, especialmente porque tinha informações privilegiadas sobre o caso.

A atuação de Cavalcanti no processo é ilegal. Pela lei, os procuradores que ingressaram no Ministério Público antes de 1988 também podem advogar, mas é proibido aceitar qualquer caso que tenha relação com seu trabalho como procurador ou com a atuação do Ministério Público. Segundo a Procuradoria-Geral da República, Cavalcanti atuou como procurador em Mato Grosso o ano passado, quando pediu desligamento do Ministério Público Federal.

Rosa: procurador sabia de fraudes

De acordo com o genro de Vedoin, neste cenário foi assinado um contrato com o escritório do procurador, em novembro de 2003. Ele teria recebido cerca de R$1,3 milhão. Segundo Rosa, Cavalcanti sempre soube que, mesmo depois de ter assinado do contrato, as empresas continuaram participando de licitações fraudadas, a partir de emendas pelas quais parlamentares recebiam propinas.

Ivo Rosa contou à Justiça que Cavalcanti teria dito a Vedoin ¿para eles continuarem a fazer o que sabiam porque, da parte dele, as medidas seriam tomadas¿. Nesta época, a família Vedoin tomou conhecimento da existência de mais de 50 inquéritos na Polícia Federal de Mato Grosso para investigar as fraudes.

No depoimento, Rosa também diz que Vedoin procurou Marcelo de Carvalho, ex-assessor do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), acusado de ter recebido propina, em busca de um advogado para acompanhar um recurso protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF).

O corregedor do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP), instalou ontem as investigações contra Suassuna, Serys Slhessarenko (PT-MT) e Magno Malta (PL-ES), acusados de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Suassuna e Serys são membros do Conselho de Ética, para onde irá a investigação caso Tuma conclua que há indícios contra eles. Suassuna é membro titular do Conselho. Serys é suplente.

O primeiro a ser ouvido por Tuma será Marcelo de Carvalho, ex-assessor de Suassuna. O segundo será o deputado licenciado Lino Rossi, que teria emprestado um carro da Planam ao senador Magno Malta (PL-ES).