Título: MARCOLA, PRESO, RECEBEU ADVOGADOS 135 VEZES
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 03/08/2006, O País, p. 17

Nos últimos três anos e meio, 29 diferentes defensores estiveram com o líder da maior facção criminosa de SP

BRASÍLIA. Documento enviado pela Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo à CPI do Tráfico de Armas contabiliza que o preso Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da principal facção criminosa do estado, recebeu 135 visitas de 29 advogados de janeiro de 2003 a junho deste ano. As visitas ocorreram nas penitenciárias de Avaré, Araraquara e Presidente Bernardes, onde Marcola ficou preso nos últimos quatro anos.

A secretaria enviou também a relação dos advogados que visitaram presos ligados à facção e o nome do detento visitado este ano. Foram incluídas apenas as penitenciárias onde houve rebeliões recentes.

A advogada Maria Odette de Moraes Haddad fez 135 visitas a presos em Presidente Venceslau, Presidente Bernardes e Junqueirópolis. Entre os que mais visitaram Marcola está Ariane dos Santos, sua ex-namorada.

Para integrantes da CPI do Tráfico de Armas, os advogados são o canal de comunicação entre os presos, como comprovam investigações da polícia.

¿ Esses advogados estão deixando de ser agentes de defesa para atuarem como verdadeiros parceiros da facção criminosa. Estou convencido de que os advogados formam a espinha dorsal do crime organizado ¿ disse o deputado Neucimar Fraga (PL-ES), vice-presidente da CPI.

Família de bombeiro morto pela facção será indenizada

A família do bombeiro João Alberto da Costa, assassinado com dois tiros dentro do quartel no dia 13 de maio, durante ataque da facção criminosa, deve ser a primeira beneficiada do pagamento de indenização. A informação foi divulgada ontem no ¿Jornal Nacional¿.

Quatro pessoas foram presas pelos ataques. Mas, para os promotores, não basta mantê-las na cadeia. É preciso atingir quem ordenou os ataques.

Na casa do homem tido como o tesoureiro da quadrilha a polícia encontrou R$162 mil. O dinheiro está à disposição da Justiça.

¿ No final, com a condenação, a família das vítimas pode pedir a indenização e o dinheiro já estará à disposição das vítimas, desde hoje correndo correção monetária e juros ¿ afirma Roberto Marangoni Talarico, promotor de Justiça.

A família do bombeiro assassinado não quis comentar a decisão.

¿ O tema que está em discussão agora é a questão da reparação das vítimas do crime organizado ¿ afirma Antenor Madruga, do Departamento de Recuperação do Ministério da Justiça.

O ex-juiz, que estuda a máfia e ações criminosas no mundo inteiro, considera que, além de descapitalizar as quadrilhas, a criação de uma espécie de fundo para pagamento de indenizações pode compensar a lentidão do estado nesse tipo de processo.

¿ Essa é uma nova postura, uma postura moderna já testada em vários países e da boa política criminal. Uma decisão adequada e justa ¿ diz Walter Maierovitch, diretor do Instituto Giovanni Falconi.