Título: CHUVA DE FOGUETES SOBRE ISRAEL
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Fonte: O Globo, 03/08/2006, O Mundo, p. 33

Hezbollah faz 230 disparos e comando israelense seqüestra 5 em hospital em Baalbek

BEIRUTE e JERUSALÉM

Apesar de Israel ter anunciado ontem que destruiu toda a infra-estrutura do Hezbollah, a guerrilha libanesa promoveu seus ataques mais intensos desde o início do conflito no dia 12 de julho. Foram lançados 230 foguetes e mísseis contra o território israelense e 36 deles caíram em cidades do norte, entre elas Akko, Safed, Maalot, Kiryat Shmona e Tiberíades. Pelo menos um israelense morreu e 19 ficaram feridos na ofensiva. No Líbano, tropas israelenses continuaram as operações por terra e fizeram um ataque violento à cidade de Baalbek, a cem quilômetros da fronteira, matando 10 pessoas e seqüestrando cinco. Essa foi a operação mais distante dentro de território libanês.

Os ataques do Hezbollah de ontem também foram os que mais penetraram em território israelense. A cidade de Beit Shean, a 70 quilômetros da fronteira com o Líbano e atingida ontem por um míssil, foi o alvo de maior alcance em Israel desde o início dos ataques. Um foguete também atingiu a Cisjordânia. Entre os foguetes usados ontem estava o Kaibar-1, que os especialistas em armamentos acreditam ser uma versão modificada do iraniano Fajr-5, ambos com maior alcance que o modelo Katiusha, que estava sendo usado até agora.

Os ataques mais intensos aconteceram na cidade de Nahariya, no litoral, onde um israelense morreu e cinco ficaram feridos. Segundo moradores, foram ouvidos barulhos de explosões durante toda a manhã.

A intensificação dos ataques do Hezbollah aconteceu no momento em que o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, dizia que o país já tinha alcançado quase todos os seus objetivos no Líbano. Segundo ele, as operações militares israelenses haviam destruído mais de 700 posições da milícia e expulsado da fronteira com Israel os membros do grupo.

¿ Toda a infra-estrutura do grupo está liquidada. Estamos cumprindo nosso objetivo ¿ disse.

O primeiro-ministro, no entanto, insistiu que Israel continuaria em combate até que forças internacionais fortes cheguem ao sul do Líbano.

¿ Eu disse que estaria pronto para um cessar-fogo, não quando forças internacionais estiverem prontas, mas quando elas forem deslocadas ¿ declarou Olmert.

Força internacional ainda sem previsão

Do outro lado, o Hezbollah insistia em declarar e demonstrar que continuava forte.

¿ Os foguetes que estão chovendo em Israel desde a manhã e um míssil lançado a mais de 70 quilômetros em território israelense provam que a resistência libanesa ainda tem poder de fogo ¿ desafiou Ghalib Abu Zeinab, porta-voz do grupo.

Após os ataques e num tom diferente do de Olmert, o ministro do Interior de Israel, Avi Dichter, afirmou que apesar de o Hezbollah ainda estar em atividade, estava confiante de que seu país venceria:

¿ O Hezbollah ainda está ativo, mas o objetivo da operação não é destruir o grupo completamente. Estamos tentando diminuir o número de foguetes lançados contra Israel e sabemos que todas as outras metas dessa operação especial serão atingidas.

Na cidade libanesa de Baalbek ocorreu, segundo analistas, a mais ousada ofensiva israelense, que começou com bombardeios aéreos, seguidos pela chegada de um helicóptero que pousou perto de um hospital nos arredores da cidade. A descida dos soldados deu início a combates ferozes com militantes do Hezbollah por várias horas. Segundo fontes, Israel acreditava que seus soldados seqüestrados eram mantidos no hospital. Segundo o Hezbollah, os dez mortos durante os combates eram civis. Cinco libaneses foram seqüestrados e levados para Israel.

Os ataques aéreos de Israel também atingiram a cidade de Jammaliyeh, uma vila perto de Baalbek, matando vários civis, incluindo cinco membros de uma mesma família. Ontem, a ONG Médicos Sem Fronteiras declarou que a situação no sul do Líbano é crítica, principalmente para crianças e idosos, e a Anistia Internacional acusou Israel de tentar deliberadamente esvaziar para sempre a região.

Em meio aos intensos ataques, a proposta de cessar-fogo e o envio de tropas internacionais para a região parecem ainda distantes. Ontem, a ONU cancelou pela segunda vez nesta semana uma reunião entre governos para a elaboração de uma estratégia para o envio de capacetes azuis. A União Européia, que aprovou na terça-feira um documento que apóia o envio de tropas internacionais, passou a ter França e Itália como opositoras da medida, pelo menos por enquanto. Segundo o governo francês, o país não deve enviar soldados para uma força internacional até que os detalhes de como será a atuação dessas forças sejam definidos com os Estados Unidos.