Título: INADIMPLÊNCIA CRESCE MENOS QUE EMPRÉSTIMOS
Autor: Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 04/08/2006, Economia, p. 25

Volume de crédito subiu 16% e atraso nas prestações, 12%. Índice não preocupa BC

BRASÍLIA. Uma das desculpas dos bancos para não reduzir os juros cobrados de consumidores e empresas nas operações de crédito, a inadimplência cresceu desde que o Banco Central (BC) começou a cortar os juros básicos da economia, em setembro do ano passado. A taxa geral subiu de 4,1% naquele mês, no caso de contas em atraso superior a 90 dias ¿ corte usado pela instituição na definição de inadimplência ¿, para 4,6% em junho último. Porém, a alta de 12,2% ainda é inferior à expansão de 16,32% no volume de recursos emprestados pelo sistema financeiro nacional (créditos livres, que não têm direcionamento prévio) no período, somando R$376,2 bilhões.

A explicação do BC é que, com o recuo dos juros, a procura por crédito ficou mais intensa e muitos consumidores foram além do que seu orçamento permitia. Mas o movimento é esperado neste cenário, avalia o BC, que, por isso, não tem grande preocupação.

¿ O crédito tem crescido e isso acaba levando a uma maior inadimplência. Mas não é nada de extraordinário ¿ explica o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Apesar de a taxa das pessoas físicas ter contribuído mais para a alta do calote, porque cresceu mais em pontos percentuais, foram as empresas que tiveram o maior salto na inadimplência: 15%. A taxa estava em 2% em setembro de 2005 e subiu para 2,3% em junho último. Já a inadimplência dos brasileiros passou de 6,5% para 7,2% no período (10,8% de alta).

Para tentar dar mais vigor ao crédito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem pressionando os bancos federais a reduzirem os spreads (diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada dos clientes). Já aconteceram duas reuniões no Palácio do Planalto e algumas medidas estão sendo concluídas, como a portabilidade do crédito consignado. O mecanismo permitiria aos clientes que tivessem empréstimo de um determinado banco migrarem para outro com taxas menores.

Outras opções avaliadas são a criação de um consignado para as empresas, com garantias via recebíveis e a redução das exigências do Fundo Garantidor de Crédito. Apesar de a pressão estar concentrada nos bancos públicos, o governo já adiantou que pretende debater o assunto com as instituições privadas.